Marcílio Godoi

Crônicas publicadas no projeto.

O Rei e eu

A primeira e única vez que estive com Pelé foi na gravação de uma canção feita por Ruriá Duprat, um amigo que arranjou e dirigiu musicalmente o Rei num CD do qual eu faria a capa. Acompanhei a gravação, e se eu fosse expressar fisicamente o meu estado emocional ali, estaria de joelhos de frente para o aquário do estúdio,

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Tragédia à brasileira

Tragédia à brasileira A Copa não trata do Sublime, do ponto de vista clássico, daquilo que possui intervenção divina. Mas vamos combinar que, na contemporaneidade, nada se aproxima de forma tão visível de uma narrativa do convívio entre deuses e homens. As grandes estrelas do futebol usufruem de toda glória, como heróis, ou semideuses, mas padecem da vaidade e do

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Nunca se desfaça de um gato

Gosto do Adenor, um cara que não se rebaixou a Bolsonaro. Acho o Titês, o idioma criado por ele, bobo e desnecessário, mas respeito e gostei de ele ter levado pra Copa um grupo de qualidade, tirando o Danny babá do menino Ney, óbvio. O Brasil tem técnica, mas hoje faltou um Técnico pra nós. Vamos aos fatos, faltou um

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Comer ouro, cortar prego

Ver nossos jogadores ostentando ouro sobre carne em restaurante da moda em plena Copa me deu a impressão de que não iremos muito longe no Qatar. Tite se mostrou fraco nesse episódio. Agrobusiness, garimpo, neoliberalismo e escravagismo: tudo de ruim numa mesma foto, que possui muitas camadas de estupidez. Nem me refiro mais à fome que assola o país pra

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País dos bordões

A crônica esportiva brasileira trabalha com uma série deliciosa de clichês adoráveis, nosso patrimônio simbólico, ancorado nas antigas transmissões radiofônicas de Fiori Gigliotti, “o tempo passa, torcida brasileira”, Osmar “pimba na gorduchinha” Santos e nas crônicas rodrigueanas de Mário e Nelson, para citar apenas os mais icônicos. Pois bem, a Argentina fez o segundo gol e agora precisa “valorizar a

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Braçadeira proibidona

Depois que proibiram a bandeira de Pernambuco nos estádios porque ela lembra a do movimento LGBTQIAP+, desisti. Deviam mudar o nome de Oriente Médio pra Oriente Péssimo. Por isso acho esse mascote da Copa tão perfeito: diante de tantos constrangimentos apresentados pela comissão organizadora do Qatar e pelo comitê da FIFA, tudo devidamente escondido pelas transmissões das tevês oficiais, nada

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Torcendo com os dentes

Marquei a dentista justamente na hora do jogo entre Alemanha e Japão. Paciência. Depois eu assisto aos melhores momentos. Quando chego na doutora, os olhos puxadinhos dela sorrindo por trás da máscara, só aí é que me dou conta: Caramba, hoje é dia feriado pra ela! Procurei bandeirolas como lanternas vermelhas pelo consultório, não vi. Mas a televisão tela plana

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Vai torcer com o quê?

Meu gastroenterologista, a pessoa que melhor me conhece por dentro neste mundo, disse-me um dia, analisando minha endoscopia no acrílico: “O estômago é o seu órgão de choque. Tudo você segura aí, absorve aí, ressente aí!”. Assustei-me com aquilo, mas não pude negar: foi ali que aprendi em definitivo que sentir é algo complexo e se dá via muitos órgãos.

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Day after no Catar

Abro a janela. Sim, ele está lá, o sol. Caramba. Esfrego os olhos e não acredito. Mas a despeito da minha retumbante tristeza, dos esquemas apáticos do Felipão, do Mick Jagger rindo na arquibancada, da escalação do Bernard e dos urubus ainda rodando em minha memória atada à esplanada do Mineirão, o sol, oito anos depois, nasce na minha janela

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