O Rei e eu

A primeira e única vez que estive com Pelé foi na gravação de uma canção feita por Ruriá Duprat, um amigo que arranjou e dirigiu musicalmente o Rei num CD do qual eu faria a capa.

Acompanhei a gravação, e se eu fosse expressar fisicamente o meu estado emocional ali, estaria de joelhos de frente para o aquário do estúdio, tamanho o meu êxtase por estar junto do dono das minhas mais encantadas imagens futebolísticas.

Pelé era um cantor sofrível, mas adorava cantar, cantava sorrindo e isso enchia o ambiente de magnética ternura. O produtor do disco era Rodolfo Stroeter, um dileto amigo e santista roxo, que abstraía qualquer deslize tonal do atleta do século em função de tudo o que o tricordiano lhe dera ao longo da vida.

Na saída, tremendo, fui apresentado a ele e arrisquei:

— Pelé, posso fazer uma foto? se eu chegar em casa sem uma foto com você a minha mulher vai me matar! — E ele, cansado de ouvir essa frase, replicou, de primeira, me pegando no contrapé, como fazia com os goleiros:

— Poxa, não precisa usar a mulher pra pedir foto com o Edson, entende? Vem aqui, pô!

(Ontem procurei essa foto feito um louco aqui em casa. Assim que eu achar coloco aqui, entende? Enquanto não a encontro, fiquem com essa pungente maravilha escultórica, os pés de Pelé pela fotógrafa, Annie Leibovitz. Quanto ao CD, poxavida, acabou não rolando.)

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