Novos garotos da camisa amarela

O presidente eleito, Lula da Silva, vestiu a camisa da CBF e vibrou com a vitória da seleção brasileira em sua estreia na Copa: 2 x Zero sobre a Sérvia. E, além de ter resgatado a camisa amarela para a cidadania e a civilidade, Lula ainda palpitou que o Brasil poderá ganhar essa Copa — que só precisamos tomar cuidado com as potências Inglaterra, França e Espanha. Boas falas. Precisamos todos de esperança, otimismo e resistência.
O país está ainda sob o efeito encantador da performance vigorosa dos novos garotos da seleção: Vini Júnior, Richarlison, Rodrygo, Antony, Fred. O enxame de vespas amarelas que ferroou a zaga vermelha da Sérvia.
O segundo gol de Richarlison, com um voleio acrobático de 180 graus, ficará impresso nas retinas e na história pessoal de cada torcedor. Na esteira dessa proeza, a mídia já vem aureolar o novíssimo astro das arenas esportivas, relatando sua infância de menino pobre no interior do Espírito Santo e sua trajetória de “superação”, ô, palavrinha enjoada. Para nosso maior regozijo, somos notificados de que o rapaz não é apenas o atleta usual, alienado, produzido em série. Não, senhoras e senhores: ficamos sabendo que Richarlison é comprometido com causas sociais e ambientais, que tem consciência das carências de grande parcela da população, e que se dispõe a contribuir pessoalmente para os processos de mudança e avanço.
Pois saibam todos que, no auge da pandemia, o atleta promoveu o leilão de um par de chuteiras suas e doou o dinheiro para um grupo de pesquisa da USP, dedicado ao combate à Covid. Na ocasião, o próprio atleta apelou à sociedade para que todos se vacinassem, num momento em que o bizarro presidente da república garganteava que a vacina poderia fazer sua cobaia “virar jacaré”, ou ficar mais propensa a contrair o vírus HIV. Ademais, o atleta presta ajuda ao Hospital do Câncer, de Barretos, e doa parte do salário para a manutenção de casas de apoio aos pacientes. Sim, senhoras e senhores: esse moço é um iluminista, um esportista-cidadão da estirpe do Dr. Sócrates, do Afonsinho, do Raí e de uns poucos que se contam “nos dedos de uma luva de boxe”. É uma figura bem-vinda e altamente salutar no presente cenário conflituoso da Terra Brasilis. Precisamos muito de exemplos de serenidade e sanidade.
Tranquilo e confiante, o jovem Richarlison declarou à imprensa: “Eu falei pros colegas no vestiário: eu só preciso de uma bola pra finalizar”. Para nossa alegria, Vini Júnior estava lá para fazer essa assistência luxuosa e letal.
Há mais seis jogos “finais” pela frente, e agora todos esperamos ser novamente encantados por esses novos garotos da camisa amarela. A lamentar, nessa partida, o entorse no tornozelo sofrido pelo jogador Neymar Júnior, que foi o alvo eletivo de trancos, empurrões, pisões e trançapés. É um duro preço a pagar pelo estrelato. Que resista e persista em seu papel tático. E abandone o tal propósito injustificável de “dedicar um gol” ao atual presidente em aviso prévio. Esse aí só mereceu cartão vermelho.

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