A Copa, a Pia, a louça suja pra lavar e o azeite de dendê

Primeiro é preciso esclarecer que a louça suja precisa ser lavada porque nós, meros torcedores, não sabemos o real motivo pelo qual Pia nunca escalou a Cristiane para sentar-se à mesa junto à seleção brasileira para qualquer coisa, nenhum campeonato, nenhum amistoso, sequer uma ida à Granja Comary, nada. Tem caroço nesse angu?

Depois, precisamos ser justos. Na Copa, a Pia nos dedicou um bom e único banquete: o ceviche panamenho servido logo na entrada nos dando a sensação de que, mais adiante, nos deliciaríamos com algumas iguarias e bons momentos, a bola no pé, a bola no gol. E sendo o peixe cru um prato leve, quase um tira-gosto, sabíamos que a qualidade da nossa seleção canarinha seria posta à prova no jogo seguinte, um suculento filé mignon com molho francês, au poivre, de sabor intenso, como são as partidas da Copa do Mundo.

Sabíamos, também, que o tempero francês para esta edição da Copa era superior ao sal grosso do churrasquinho brasileiro. A versão francesa conta com creme de leite, pimenta e conhaque. Por aqui, a carne é servida in natura sobre a brasa. Dizem que no Brasil a coisa é na raça, até é, mas o cardápio da Copa do Mundo serve pratos muito mais consolidados e começa já com o bom café da manhã, ovos e bacon, o preferido das americanas.

Seguindo a lista do bom menu, ali no ranking da FIFA, e para dizer da boa qualidade técnica das jogadoras, a Copa conta para a próxima fase com as almôndegas suecas e o chá da tarde inglês. A paella espanhola também se classificou em jogo no qual foi servido o sushi japonês, este com 100% de aproveitamento.

Neste cenário, em que não lutávamos pelo favoritismo, também não havia qualquer análise prévia que colocasse o Brasil fora das oitavas, era impensável perder para a Jamaica, tanto que a mídia brasileira se esforçou, muitas vezes, em colocar mais confiança no tempero das brasileiras do que brilhariam as próprias jogadoras e a comissão técnica durante o evento. Faz parte do jogo.

O fato é que muita gente amanheceu nesta quarta-feira já sabendo que o cozido jamaicano ia ser difícil de engolir, daí a Marta ter começado como titular, o que não deu liga. E para a gente entender o acontecido, o jerk jamaicano é um prato bastante defensivo. Conta a história que escravos fugitivos precisavam preparar sua comida de modo mais discreto possível, ali na miúda, e a técnica era preparar as carnes em buracos na terra, onde eram acesas fogueiras. Assim, evitava-se a criação de fumaça. Assim, a Jamaica empatou zero a zero com a França. E, assim, a Jamaica repetiu o feito com o Brasil.

Só que o Brasil não é só carne na brasa e neste ponto você pode estar se perguntando: e o acarajé? O abará? O arroz de cuxá? A ginga, cadê?

É fato e não há serviço que dê conta: no comando do Brasil na Copa, a Pia foi a campo com um estilo de jogo feito de mais mirtilos do que azeite de dendê.

E o Brasil, cadê?

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Primeira fase – Copa do Mundo Feminina 2023
Brasil 4 x 0 Panamá
França 2 x 1 Brasil
Jamaica 0 x 0 Brasil

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