Apita o árbitro e os dois primeiros dias de Copa do Catar foram de tirar o fôlego. Não graças à cerimônia de abertura, que foi chinfrim, com aquela luta de espadas Jedi, música paia e os Fulecos de todas as edições anteriores. Gostei do fantasminha catariano. O ponto alto foi o encontro de Morgan Freeman com Ghanim Al Muftah, o influenciador digital que se agigantou ao lado do ator americano. Claro que não explicaram pro locutor do Sportv a dimensão do Morgan Freeman ali, e ele fez o favor de dublar o maior nome da noite, dono da grande voz que não pudemos ouvir. Obrigada, Luiz Carlos.
Tirante essas questões de somenos, como a falta de cerveja e a proibição da braçadeira de capitão anti-homofobia, vamos ao que de fato nos tira o fôlego: gol. E nesse quesito, o detalhe que alguns desprezam, foram dois dias profícuos. A começar pelo 13 do Equador (13 é Galo!), o Enner Valencia (foto), que precisou converter três pra dois valerem. Se ele não tivesse saído de maca fake num jogo da seleção pra fugir da prisão por não pagar pensão alimentícia, já estaria na minha galeria de heróis. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, e não são dois gols numa Copa do Mundo que vão aliviar pra machista que não cumpre a obrigação.
Dois fizeram também o inglês Saka e o iraniano Taremi. E a Inglaterra goleou com belo futebol e jogadas empolgantes, enquanto a Holanda deixou a desejar diante de um Senegal promissor. O resultado não fez jus aos africanos.
Que delícia ver Bale converter um pênalti pro seu País de Gales de poucas expectativas senão ver o Bale em campo. Que delícia ver o Irã descontar dois dos seis tentos sofridos. Que maravilha festejar com o Weah filho em nome do Weah pai, que nunca esteve em Copa do Mundo, mas que brilhou no futebol e hoje preside a Libéria.
Estranha é a sensação de acompanhar Rafael Claus e Wilton Pereira Sampaio apitando Copa do Mundo. Depois de passar o ano odiando esses e todos os outros árbitros do Campeonato Brasileiro, como elogiar o desempenho deles na maior competição do planeta? Mas dá pra elogiar! Eles foram bem, na minha modesta opinião. E de quebra teve aquele baixinho de quem eu gosto, o assistente Bruno Boschilia, que levou sua bandeirinha pra terra dos xeiques.
Foram só dois dias até agora, a primeira rodada incompleta de dois grupos, mas não faltaram emoções. Amanhã tem Argentina. Já contei aqui em anos passados que gosto dos hermanos, não cultivo rivalidade tola, sou fã do Messi e chego a torcer pra eles em determinadas situações. Como a jornada começa às 7h, acho que vou transferir minha cama pro sofá da sala. Inté!
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Clara Arreguy
Clara Arreguy é jornalista e escritora. Mineira de Belo Horizonte, mora em Brasília desde 2004. Trabalhou nos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, na revista Veja Brasília, em assessorias de imprensa de empresas e governos. Tem 29 livros publicados. Três deles falam sobre esportes: o romance "Segunda divisão" (Lamparina, 2005), o volume de contos "Sonhos olímpicos" (Franco, 2014) e o de crônicas "Futebola - crônicas sobre as copas de 2018 e 2019" (Outubro Edições, 2020), em parceria com Fernanda de Aragão. Um, sobre jornalismo: "Bola Dentro, um furo de reportagem" (Outubro, 2018). Mantém um blog de crônicas e resenhas no site de sua editora: www.outubroedicoes.com.br. E apresenta resenhas literárias no canal da Outubro Edições no Youtube. (Foto: Eugênia Alvarez)
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