A odisseia da bola pelos pés (e pela alma) das nossas meninas

Futebol sempre foi sinônimo de paixão e inspiração para mim, independentemente do gênero. Isso porque a bola é o mundo, a bola são todos e nenhum gênero ao mesmo tempo. A bola é hermética e afrodisíaca, um casamento de deuses: um rebento hermafrodita. Ela não é neutra, nunca foi, é volante, volúvel: muda de lado, de cores… Uma deslumbrante camaleoa em busca de vida.

A bola tem regra e, ao mesmo tempo, é subversiva. E quão bem-vinda foi a desobediência civil dela e delas! Segundo a lei, no Brasil, mulheres não poderiam jogar bola até 1979, mas, sob as bênçãos dos deuses do futebol, elas chutaram para longe a tolice do mundo e colocaram, nas redes, com muita categoria, seus sonhos de meninas.

Futebolisticamente irresistíveis, Sissi, Pretinha, Roseli e cia. me ganharam. Foi na Copa de 1995, que virei fã de um time encantador, que jogava com o uniforme dos “meninos”, porque quem organizava o futebol, no País, ainda não fazia ideia da diversidade que cabe numa bola.

Uma pena que nem o terceiro lugar naquele mundial e no seguinte, em 1999, fizeram-nos descobrir essa riqueza. Os deuses teriam mais obras a realizar. Nos anos seguintes, transformariam Formiga numa heroica gigante e dariam à luz uma semideusa da bola chamada Marta.

Sobre os ombros de tantas Atlas, inspirado por lutas, gols e desabafos, o futebol feminino brasileiro parece, enfim, ter conquistado seu altar no templo do esporte. Sob a bênção de um passado odisseico, nossas jogadoras singram mares e, agora, aportam na Oceania. Mais do que buscar algo, as meninas levam, prometeicas, as suas transgeracionais conquistas.

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