VESTIU UMA CAMISA AMARELA E SAIU POR AÍ

Abri o armário e ela foi logo se atirando em cima de mim, num abraço que nem abraço de gente. Suas mangas enroscaram minha nuca e eu a envolvi nos meus braços. Rodopiamos.
– Que saudade!
– Nem fala…
– Você foi sequestrada e eu achava que nunca mais íamos nos encontrar.
– Passou, passou, passou!
– Agora vamos sair por aí, sem vergonha de sair por aí.
– Mostrando nosso amor inabalável, desde sua primeira copa em 58.
– Não fala. Revela idade.
– E você liga pra isso? Nós dois, tecido e corpo coladinhos, vendo Pelé, Garrincha, Didi, Vavá, Zito, Nilson Santos, Djalma Santos, Amarildo, Zagallo, Carlos Alberto, Clodoaldo, Gerson, Rivellino, Jairzinho, Tostão, Paulo Cesar, Romário, Bebeto, Rivaldo, os Ronaldos…
– O inho e o Fenômeno.
– Quem viu esses caras jogando é rico.
– Nós dois juntinhos somos imbatíveis. Uma concentração de felicidade.
– E ainda tem Zico, Sócrates, Falcão, Junior, Leandro…
– Esses mesmos sem copa entraram para nossa História.
– Me diga uma coisa. Com quem você andou nesses últimos anos?
– Quero falar nisso não. Fiquei escondidinha no canto da sua gaveta.
– Mas sua primas andaram pelas ruas.
– Página infeliz da nossa História. Já disse. Quero falar nisso não. Hora de olhar pra frente. Abraçar pessoas de camisa amarela com a alegria do jeito que Brasil sempre foi, é e será.
– Sem medo de ser feliz.
– Shiiiii. Nada de política pelamordedeus, uma mistura que não dá certo.
– Mussolini que o diga.
– Peraí, que cheiro é esse?
– Naftalina. Me guardei pra você.
– Ô cheiro cheiroso! Cheiro de amor represado.
– Te amo.
– Te amo.

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