PERMITO ME DIZER QUE TE AMO

Total respeito aos que não gostam de Copa do Mundo.
Seja por protesto contra o Catar, a FIFA ou aos governos e aproveitadores. Seja por misturar futebol com política, seja por achar futebol chato mesmo.
Mas por favor, não gastem eloquentes ou velados argumentos para me convencer do contrário, não me apontem o dedo rangendo entre dentes e olhares: “seu alienado, inocente útil, incauto, insensível ao maquiavelismo do sistema, que há saecula saeculorum âmen promove o circo para quem não tem pão”.
Tudo bem. Há séries ótimas a serem assistidas. Já viram a última temporada de The Crown? Ah, desculpe, acha de antemão que é a apologia do Império Britânico? Ok. Há livros para ler, filmes para se deleitar. Há uma infinidade de alternativas para respirar durante essa “imersão sufocante do futebol.”
Pois esse é meu mergulho. Todos os jogos sem piscar, com todas as razões e emoções, que fazem bem me permitir.
Em menos de uma semana, já valeu o ingresso, o pão de queijo, os estoques de alentejanos. Já valeu a saudade dos amigos e dos amores geograficamente distantes, mas grudados na conexão mágica da tecnologia.
Vamos aos fatos. O gol do Richarlison é de uma plasticidade a ser estudada pelo Bolshoi, a prova da tese chicobuarqueana de que futebol é o artista em movimento.
As defesas do goleiro da Polônia são instintos naturais de bichos caçadores no encalço das caças. Por falar em caça, o tornozelo do Neymar é a dor inerente ao futebol. Sem politizações, por favor.
E nenhum gol superou até agora o golaço que aconteceu fora das quatro linhas. O autor, Hervé Renard, técnico da Arábia Saudita. Sua bronca motivadora mudou a história de um jogo até então perdido para um favorito, e ainda entrou para História das Copas e dos grandes líderes.
“Vai deixar o Messi jogar ou pegar o celular e tirar uma selfie com ele?”
Mais ou menos isso. Seja como foi, foi coisa de redator talentoso.
Copa do Mundo para mim é arte, em infinitas manifestações.
Sem explicações, uma concentração de sensibilidade. Amo.

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