EMBATES INTERIORES

De todas as dezessete Copas para quais fui convocado, talvez seja
essa a que tenha mais cara de sensações antagônicas.
A começar pela sede. O Catar, pelas circunstância que “convenceu”
a FIFA e pelas violações dos direitos humanos explícita merecia
tamanho holofote?
Por outro lado, não é importante saber que existem – e como existem – mundos diferentes do nosso, valores estranhos aos que se realimentam nas nossas bolhas? Ficamos indignados com a burca? Nós que viemos de uma sociedade campeã em feminicídios e desvalorização da mulher? Oh, no Catar elas não podem ir aos estádios. Oh, nas ruas brasileiras os trajes sumários das meninas são estímulos sexuais desembestados. Não é isso que dizem?
Por outro lado, nunca tivemos tantos “por outros lados” a refletir.
O tornozelo do Neymar preocupa. Por outro lado dizem que merece a dor porque votou no candidato derrotado. Por outro lado Gilberto Gil, que votou no vitorioso, foi desacatado no estádios por derrotados, que, por serem ricos, arranjaram um jeito mais confortável do que rezar sob chuva na porta dos quartéis.
Nunca na história das Copas as redes sociais entraram em campo com tanta desenvoltura. Não há raros imunes ao WhatsApp, onde a polarização provoca risadas e radicalismo na mesma toada.
Por outra lado, os memes explodem em criatividade. Assim como os haters em chatice. Não há quem não escape deles. O bigode do Allison, os clichês do Galvão Bueno, as vozes estridentes das locutoras, os comercias chicletes lek lek, Daniel Alves e seu pandeiro, tudo passa do limite da crítica ao odiável.
Técnicos sempre foram teimosos, Galvão Bueno sempre foi Galvão Bueno, mas a turma não perdoa. Por outra lado, tem todo direito de não perdoar. Assim é a convivência com humanos.
Vivo particularmente uma Copa de embates interiores. O pessimismo e otimismo, o sim e o não, dormem no mesmo quarto na minha concentração. Talvez pela distância geográfica de amigos e amores, por outro lado a Copa me dá a oportunidade de agregar novos amigos amores na vida nova que escolhi viver.
E seguem os prós e contras na balança dentro da gente.
Tite diz que vai escalar o time reserva contra Camarões. Por um lado, preserva os titulares de contusão, dá descanso aos músculos. E se houver resultado ruim? Abala o moral da tropa, com certeza.
Com certeza, nada! A vida anda em zig zag, a dúvida é a bússola, a incerteza inspira. Sentimentos conflitados e pensamentos divergentes são energéticos.
Uma coisa é absolutamente certa: se o Brasil cair num mata mata vou ficar muito triste. Por outro lado, dia seguinte passa.

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