Enquanto se chora pela eliminação precoce da Seleção Feminina no Mundial, pela despedida da Rainha Marta das Copas, pela atrapalhada exibição das meninas contra a Jamaica e pela inércia da treinadora Pia diante da necessidade de mexer no time, a crônica esportiva lacrimosa encobre uma imensa vitória das mulheres no campo do humanismo, da justiça e da ética na sociedade brasileira.
Em algum lugar de algum noticiário, exalta-se uma vitória: “STF torna ilegal alegação de legitima defesa de honra em feminicídios”. Sei que o fórum para este assunto não é o “Crônicas da Copa”, mas impossível me conter na medida em que certos temas transcendem ao futebol. No entanto, quando o mote é a mulher, me permito com embutidas desculpas sair das quatro linhas.
A decisão unanime do STF repara um dos maiores absurdos na lei brasileira, a mesma que salvou a pele de Doca Street ao alegar defesa de honra por matar sua mulher Ângela Diniz. Quem lembra? Eu lembro.
Apenas um exemplo, que vergonhosamente se acumula entre tantos. O traço patriarcal, arcaico, autoritário, machista, misógino e imoral, que ainda define algum desenho da sociedade brasileira, acaba de tomar um gol entre as pernas, no minuto final, quando o apito da Justiça definitivamente encerrou o jogo sujo.
Repito meu perdão por transgredir a pauta do “Crônicas da Copa”. Mais que por entusiasmo, muito por necessidade, é fundamental que leitores e leitoras, parceiros e editores desse espaço, gente sensível e consciente, comemorem essa vitória fora das páginas do esporte.
Tanto quanto a Seleção Feminina, ainda há um longo caminho pela frente em direção às conquistas femininas, mas foi uma tardia e grande evolução. A Legitima Defesa da Honra só servia aos ditos “maridos traídos”, entendedores que o direito à infidelidade só pertencia ao “macho superior”. Agora, eles têm um motivo para coçar a testa antes de decidirem fazer justiça com suas próprias mãos criminosas.
Parabéns, mulheres. Parabéns, Brasil.
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José Guilherme Vereza
José Guilherme Vereza é publicitário, redator, diretor de criação, escritor, ficcionista, cronista, roteirista. Pós graduado em Pedagogia, acrescentou o “professor” nessa lista de coisas que gosta de fazer. E não para por aí. É pai de quatro (objetiva e subjetivamente), avô de dois, metido a cozinheiro, botafoguense típico, ama escrever. Ter sido convocado para o timaço do Crônicas da Copa é seu imodesto gol de placa.
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