O nome da tia

Ela não estava nem aí para a Copa. Cuidava lá das suas coisinhas, alheia aos humores dos torcedores. Na sala o povo da sua família, mais os amigos, berravam, vociferavam, choravam, xingavam o Neymar, clamavam por Neymar, escalavam o time que o Tite não escalou, e o tempo, que também não estava em aí para a Copa, corria como louco para o fim do jogo. Quarenta e três, quarenta e quatro, quarenta e cinco. E tome de cruzamento, de chute, de lançamento, de bola na trave, de defesa do Navas, e a bola, caprichosa, recusava o gol, divertindo-se à custa do sofrimento dos brasileiros. Cacete! Tem que ser sempre assim?, dizia o avô, o mais velho na sala, curtido de tanto sofrer pelo seu time e pela seleção. O tio sereno que apenas olhava o visor, filosofava, É assim mesmo, querem o quê? E nada da bola entrar, o jogo já vai acabar, e agora, como se classificar, dois pontinhos de nada, e agora vamos ter que ganhar de qualquer jeito no último jogo, vai ser um desespero, e a outra seleção, no terceiro jogo, vai ter mais retranca ainda, e a gente que acreditava tanto que o Neymar faria a diferença. Mas eis que, exatamente aos quarenta e cinco minutos, não aguentando mais a tensão, a tia vai e pega a outra tia que não estava nem aí para a Copa e andava de lá para cá cuidando de suas coisinhas, e arrasta a coitada para a sala e senta ela na frente da TV, Senta aí que isso não é certo, todo mundo se matando aqui pelo Brasil e você preocupada com limpezas e arrumações. E a coitada da tia sentou, que remédio, e, exatamente no momento em que ela sentou e deu uma olhava para a TV, o Philippe Coutinho, esse garoto com nome de príncipe inglês, deu um bico e a bola entrou, entrou, entrou, e o povo na sala não gritava, urrava, não o nome do príncipe, mas, em coro, e bem alto, Charlotte, Charlotte, Charlotte, que era o nome da tia.

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