SOFÁ, A ARQUIBANCADA DO RECALQUE

Sim, o Palmeiras não conseguiu o Mundial. Outra vez. Para o Chelsea. Outra vez. E, como sempre, pipocam nas redes sociais as mesmas vozes satisfeitas, com os mesmos memes reciclados e a mesma risadinha de quem nunca foi chamado pra festa, mas grita da calçada que a música lá dentro está ruim.
Aos secadores de sofá, ofereço um brinde: um copo de irrelevância, servido com gelo de amargura e uma rodela de limão cortado na inveja. Porque convenhamos: é fácil rir da queda alheia quando você mesmo nunca subiu a escada.
Palmeiras perdeu? Perdeu. Mas estava lá. Jogando. Contra o campeão da Champions. Com VAR, com pressão, com torcida adversária. Enquanto isso, o secador estava em casa, com a camisa da Lazio (porque é bonita), tomando cerveja quente e fingindo que futebol se resume a torcer contra o sucesso dos outros, como um ex mal resolvido comentando o casamento da ex-namorada bem-sucedida.
A ironia, claro, é que muitos dos que mais gritam “não tem Mundial” fazem parte de torcidas cujos maiores feitos internacionais envolvem o Inter de Limeira, o Once Caldas e um eventual passeio por Assunção com derrota. Se o Palmeiras é chacota por perder pro Chelsea, o que sobra pra quem não tem nem passaporte carimbado?
Há um prazer mesquinho em amaldiçoar o outro. O brasileiro, por alguma razão antropológica ainda não explicada, ama ver o vizinho tropeçar no tapete da glória. Principalmente se o vizinho tem grama verde, estádio cheio, conta bancária gorda e ainda ousa ganhar o Brasileirão e a Libertadores com frequência desconfortável.
O Mundial escapou, sim. De novo. E vai escapar mais vezes, porque futebol também é isso: perder. Mas só perde quem joga. Só erra pênalti quem entra em campo. Só chora quem chegou perto. O resto é Twitter, sofá e emoji. E não há troféu pra isso. Ainda bem.

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