Aquele dia com Pelé

Vi Pelé uma única vez em campo. Eu, quatro meses antes de completar meus 10 aninhos, estava no Maracanã em sua despedida da seleção, no dia 18/7/71, em jogo contra a Iugoslávia (2 a 2), país que pertencia à “Cortina de Ferro” e que, com o fim da União Soviética, foi desmembrado, criando, entre outros, a Croácia, nosso calo no último mundial.

Lembro de pouca coisa da peleja, mas tenho muito viva a indignação do taxista que não queria nos levar ao estádio. Conto a história: eu e minha madrinha tomamos um táxi em Copacabana para ir à Lapa, onde pegaríamos um amigo e seguiríamos para o jogo. Mal entramos no carro, o motorista adiantou que não levaria ninguém ao Maracanã, não enfrentaria o engarrafamento de maneira alguma. Pensávamos que, na Lapa, desceríamos e, com o amigo, embarcaríamos em outro táxi. Que nada! O amigo se enfiou no carro e foi logo indicando nosso destino. O taxista, apesar de reclamar durante todo o trajeto, e ao contrário de seu aviso prévio, aceitou a corrida. Uma cena bem carioca, incompreensível para o moleque do interior que eu era. Mas, enfim, entrei naquele lugar no qual se espalhavam umas quase duzentas mil pessoas, número entre quatro e seis vezes a população de minha cidade em Minas.

Em meio àquela grandiosidade inimaginável, acho que vi pouco do jogo, atraído pelas cenas da torcida. Seja como for, me lembro de quando Pelé foi substituído e deu voltas ao campo. Meus dez anos não permitiram que eu compreendesse a dimensão daquilo, mas eu intuía que o povo que ainda saboreava o tri-campeonato reverenciava um sujeito que, como muitos que estavam no Maracanã (da época dos Geraldinos e Arquibaldos, longe do estádio gourmet de hoje), veio do nada – um negro a mais num país que sempre maltratou negros – e se impôs como um gigante. Um rei.

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