AMAR ELA

AMAR ELA

Que seria do amarelo
Sem o mundo paralelo?
Que seria da amarela
Se tivermos asco dela?

Vou voltar ao tempo: usei a camisa amarelinha pela primeira vez na parada de 7 de setembro de 1958. Calção azul, camisa amarela, meias brancas, com beirada verde e amarela, e um miserável par de chuteiras apertadas. Até hoje me doem os dedos.
Ainda menino, vi num álbum de figurinhas de meu irmão Walter a imagem de um time de Santos, chamado Jabaquara, e a camisa era amarela. Sem muita consciência do que aquilo significava, só me lembro que me pareceu heresia: qualquer camisa amarela que não fosse a da seleção, era mero pastiche – embora também não soubesse o que era ser pastiche.
Na Liga Desportiva Caxambuense, lá no Sul de Minas, disputava o nosso verdão, 7 de Setembro Futebol Clube, time de Cruzília, já presidido pelo meu pai, e do qual fui sempre torcedor. Seu arquirrival era e é o Ypiranga Atlético Clube, também de nossa cidade, e que – blasfêmia das blasfêmias – usava e usa a camisa amarela.
Ora, principalmente a partir da Copa de 70, sempre tive uma camisa da seleção, e não vai ser agora que vou desprezá-la por motivos políticos. A camisa, como a bandeira, pertencem ao povo brasileiro, sem distinção ideológica, lógico.
Meu problema, na verdade, era que essa camisa amarela remetia ao Ypiranga, onde jogavam Fiapo, Nato, Rato, Marcha Ré, Pé Grosso, Zé Félix, Tião Félix, Tião Fusquê, Mané Galo, Galo Morto e Guela. Adversários do garboso 7 de Setembro, com Gil, Dalmo, Dácio, Nelo, Nandinho, Jajá, Coquinho, Peixe, Galé, Covinha e Zé Maria.
O Ypiranga foi fundado em 1955, enquanto o 7 de Setembro é de 1915. O Ypiranga nasceu num primeiro de maio; e, em vez de se apropriar da data operária, foi pegar uma metonímica carona com a data da independência, fisgando o riacho onde Dom Pedro matou o cachorro a grito.
Durante anos detestei o Ypiranga e até usei com discrição a camisa canarinha.
Mas depois tornei-me amigo dos filhos do presidente do Ypiranga, os saudosos Jaiminho, Jacyr e Jorge Ferreira (criador do Feitiço Mineiro de Brasília)  e o amarelão passou a ser meu segundo time em Cruzília.
Deixa que digam e que pensem e que falem, mas, nesta Copa, topo usar de novo a camisa amarela. Embora não conheça direito nem a metade do time, principalmente um tal de Antony – que, se fosse do Ypiranga, deveria se chamar Tonhão, vou vestir a camisa evocando Bellini, Djalma Santos, Brito, Vavá, Cafu, Gérson, Didi, Rivelino, Tostão, Jairzinho, Ronaldo, Pelé e Romário e, pegando o caneco, vou sair pulando mais do que Saci nunca saciado de vitórias.

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