UMA COPA DA LEITURA!

Das palavras mais emblemáticas que ouço desde uns tempos para cá, “leitura de jogo” deve ser das mais enigmáticas e não só por dar ao autor da frase um ar respeitável, pois, fornece ao mesmo uma certa aura de critérios científicos. São muitos os cronistas, comentaristas, jornalistas e filósofos do futebol que vaticinam definições e o ouvinte ou leitor ou espectador ou se sente muito sabido por entender tudinho ou se sente um analfabeto funcional por não ser capaz de realizar a tal “leitura de jogo”.
Hoje, 25 de novembro, eu tinha várias ideias de estrear nestas “crônicas da Copa”. Porém, desde ontem, 24 de novembro, dia de estréia da Seleção Brasileira na Copa do Catar, uma cena surpreendente jogou por terra todo o arcabouço que havia montado para tecer alguns comentários e ao menos não fazer feio. Assistindo ao jogo contra a Sérvia, cujo rude treinador cismou de cutucar onça com vara curta (deve ser porque na Sérvia não tem onça), eu tentava de todas as formas realizar uma mínima “leitura” que fosse suficiente para entender que estratégia infalível o professor Tite armara para calar a boca do arrogante sérvio que um dia antes parecia zombar da pretensão do Tite de colocar quatro ou até mais atacantes atacantes. Minha “leitura” tentava decifrar ou ao menos sondar a decifração do segredo: seria uma nova e revolucionária maneira de usar os alas? Ou uma jogada ensaiada, uma surpreendente enfiada de bola do Paquetá? Ou um contundente avanço simultâneo de Vini Jr. e Neymar que deixaria os sérvios zonzos e bastaria o oportunismo de um atacante bem colocado para só tocar para as redes, como nos bons tempos de Romário?

E, de repente, um choque: como que do nada, uma bola é lançada na área sérvia e quando numa fração de segundo eu quase lamento o centroavante que não matou no peito e deu um chapéu no zagueiro, vejo, sem entender patavina, o atacante Richardison se lançar no ar com as pernas e cometer uma perfeição: acertou com o peito do pé um chute fortíssimo e no canto que mesmo o goleiro adivinhando a trajetória da bola, não impediu um gol que está destinado a virar históri; o voleio perfeito, desafiando algumas leis da física: não só a habilidade de lançar-se ao ar, como um ginasta olimpico, mas acertar a bola com precisão e direção matemáticas, como num gráfico de videogame!
Pode ser o mais bonito da Copa e também pode ser o gol que recolocará no papel de fazer tremer adversários com a mesma imprevisibilidade de um drible desconcertante de Garrincha!
Num torneio marcado até aqui, meados da segunda rodada, por bocejantes apresentações de Argentina, Alemanha e Inglaterra, o Brasil ganha confiança no momento exato.
E de minha parte, deixo de lado a vã tentativa de compreender a elaboração de esquemas científicos infalíveis a partir de eruditas “leituras de jogo”. Infalíveis esquemas pode depender de outras variantes: combinar com o russos, por exemplo, como diria o inefável e sábio Garrincha!

Como nos últimos tempos no Brasil estamos a todo momento nos deparando com situações inesperadas e às vezes bizarras, fui surpreendido por notícias onde grupos patrióticos vaiaram os gols e a vitória da Seleção. Ou seja, banana comendo macaco. Definitivamente, o Brasil não é para amadores!

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