Wilton Santana

Crônicas publicadas no projeto.

Inimigos do afeto

Naquela semana ela soube que haveria um campeonato na escola do seu esporte favorito: futebol. Sentiu um friozinho por dentro. Imaginou-se jogando. Sorriu. A vida é boa. Em casa propagou a novidade e disse que se inscreveria no dia seguinte. Na hora de dormir, enrolada no lençol, lembrou-se de cobrir os pés para que nada de mal lhes acontecesse. Agradeceu

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Teoria da bola

Havia sido um amistoso seguido de vitória, como de costume. No centro do ônibus, reunidos, falávamos sobre a vida, entoávamos sambas conhecidos por todos, encarnávamos nos mais tímidos e nos divertíamos. Cumpríamos o ritual que nos unia e fortalecia. Aquele que, em algum momento, alguns outros meninos iniciaram e que se perpetuou. Ainda que não soubéssemos, essas práticas leves e

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Desencontro

Se os jogadores brasileiros morassem no Brasil e tivessem sentido, minimamente que fosse, a dor e a distopia desses quatro anos do governo de saída, teriam feito outra Copa? Se mesmo morando fora, como a maioria, e não fossem alienados, como a maioria, teriam feito outra Copa? Não sei como você responderá. O que sei é que não é possível

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Lições portuguesas

Cristiano Ronaldo foi para o banco de reservas da seleção portuguesa. Claro, foi uma surpresa para todos. A seleção fez um jogo impecável e venceu a Suíça por 6×1. Seu substituto marcou três gols. Ele permanecerá no banco? É possível que Cristiano esteja descontente. Mas não deu nenhuma declaração pública reclamado protagonismo. Também não o vi de cara amarrada. Quando

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Coisa de gringo

Minha vizinhança comemora gol 20 segundos na minha frente. É como se eu estivesse no cinema e a pessoa ao meu lado antecipasse o desfecho das cenas seguintes. Perde a graça. Por 20 segundos eu espero o gol já comemorado. Alguns vizinhos sopram vuvuzelas por esse tempo. Quando é gol para mim, eles param. É um alívio. O futebol combina

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Camarões indigestos

Tite não tem nenhum lateral esquerdo para enfrentar a Coreia do Sul. Ao menos enquanto escrevo essas palavras. E tem um lateral direito de ofício, Daniel Alves, que perdeu potência para defender e atacar. Seus cruzamentos, antes precisos, não chegam mais aonde deveriam. A falta que bateu próxima da área não teve força, precisão, perigo, assinatura. Espero que Alexsandro e

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Não dá para rir

Ontem estive em uma apresentação de stand up comedy. Estava atrás de me divertir. O comediante falou por uma hora e meia. Mas eu não ri. Nem por dentro. Nem antes, com os dois que abriram o show. Nem depois. Azar. Passado algum tempo, que para mim era muito tempo, minha filha me perguntou sobre as horas. Respondi que era

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Par ou ímpar?

Até por volta dos meus 17 anos, eu achava que os anos ímpares me favoreciam. Nascera em 1969, minha irmã em 1975, o Corinthians foi campeão paulista em 1977, 79 e 83 e o Flamengo venceu o mundial em 1981, mesmo ano em que, jogando futsal, ganhei os meus primeiros campeonatos e terminei como artilheiro com 113 gols. Como se

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Um juiz pra não chamar de Seo

As crianças estão alvoroçadas com a Copa. As meninas criam penteados diferentes e pintam o rosto com criatividade. Os meninos que estavam faltando voltaram a tempo de recuperar o sonho. A criançada substituiu as camisetas habituais pela amarelinha, sem temer mal-entendido. Aproximo-me da roda de conversa inicial da Sub-9. Um dos garotos olha pra mim e dispara: – Oi, aposentado!

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Um novo tempo?

Acho que é cedo. – Cedo? – Sim. E se ele for… – Não é! Você sabia que ele pediu, publicamente, por urgência nas buscas pelo desaparecimento do Dom Phillips e do Bruno Pereira? – Pediu? – Sim. Ele se posicionou. – Isso é raro. – Tem mais: ele se tornou embaixador do USP Vida, aquele programa voltado para pessoas

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