Coisa de gringo

Minha vizinhança comemora gol 20 segundos na minha frente. É como se eu estivesse no cinema e a pessoa ao meu lado antecipasse o desfecho das cenas seguintes. Perde a graça. Por 20 segundos eu espero o gol já comemorado. Alguns vizinhos sopram vuvuzelas por esse tempo. Quando é gol para mim, eles param. É um alívio. O futebol combina com samba. E não tem vuvuzela no samba. Isso é coisa de gringo.

A seleção teve dois jogos difíceis inicialmente, contra a Sérvia e a cartesiana Suíça. Contra Camarões, poupou seus principais jogadores. Ontem passou sem dificuldades pela Coreia amiga, que deveria ter copiado a Suíça, ao menos defensivamente. Será que a vitória sobre Portugal iludiu a Coreia ao ponto de acreditar que poderia enfrentar o Brasil de peito aberto? Deu no que deu. O jogo foi definido na primeira etapa. Se Raphinha soubesse fazer gol seria uma goleada ainda maior. Preocupa ter um atacante que finaliza e a bola morre na mão do goleiro adversário.

Não foi a vitória sobre a Coreia que credenciou o Brasil como um dos favoritos ao título. Mas ter Vini, Richarlyson, Neymar, Raphinha (eu trocaria por Rodrygo!) e Paquetá. Cinco.
Militão, Marquinhos, Thiago, Danilo, Casemiro. Cinco. Isso que a credencia. Esse equilíbrio entre quem ataca e quem defende expõe menos o time e naturaliza a nossa vocação ofensiva. Sem contar que o Brasil, o time grande do jogo, quando preciso, soube marcar recuado e coeso para sair em contra-ataque. Os dois extremos, Raphinha e Vini Jr., recuam pelos lados e formam a primeira linha de quatro. São bons marcadores pelo lado.

Tite pode dançar com seus jogadores. Se for espontâneo, ainda melhor. Não tem essa de gestão de grupo! É apenas alegria. É preciso saber viver, curtir o momento, divertir-se. Mesmo a coisa toda sendo séria, é jogo. E jogo não se contém. Vaza.

A faixa para Pelé foi simpática. Achei morna a aproximação com a torcida. É melhor do que fria. A torcida é branca. É branco quem tem grana para ir ao exterior, no imodesto Catar, ver jogo de futebol. São os brancos que têm todas as vantagens por aqui. São eles que largam na frente e ocupam os melhores cargos e têm os melhores salários. São eles os donos do campinho. Desde 22 de abril de 1500.

Neymar fez gol e não homenageou o presidente. Ninguém gosta de se unir a perdedor. Esfriou. O Brasil do futuro é o que importa, ainda que São Paulo queira se manter em algum lugar do passado.

A seleção joga mais com Neymar. Mas foi Vini Jr., e não Neymar, o melhor do jogo e da seleção. Quando for o Neymar todos saberemos.

Danilo é um jogador versátil. Joga na ala (dos dois lados), na zaga e no meio. Ele conta que nunca foi destaque nas menores. Que nunca foi paparicado. O que isso ensina? Algo a se pensar.

Croácia e Brasil chegam às quartas com méritos. O Brasil é superior e deve vencer. Mas essa frase só tem significado no passado.

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