É uma coisa tão velha quanto andar para a frente: se repetimos sempre os mesmos erros, como poderemos acertar finalmente? Eu sei, você sabe, todos sabemos. Todos? Bem, não parece. Fácil ser profeta do passado, mas desde o começo a coisa não cheirava bem. Um técnico discutível, no mínimo, refém (voluntário ou não) das muitas maquinações sinistras da CBF. Sinistra CBF, que pleonasmo. Convocações muito estranhas maquinadas por empresários (não vou repetir o termo “sinistro”, juro), falta de ousadia ou comprometimento real.
Temos um craque fora da curva, se bem que a curva mesmo está sendo achatada pelas muitas contusões e noites de baladas e atividades voltadas para angariar curtidas em redes sociais. Temos um grupo bem-sucedido de jogadores milionários, cujos salários os fazem perderem o contato com a realidade e se afastarem cada vez mais de suas raízes. Muitos pagos bem além do que realmente produzem, mas isso é com os clubes e empresários, espertos o suficiente para supervalorizarem suas mercadorias.
Temos uma instituição manchada de cabo a rabo pela corrupção, que conta com um ex presidente preso no exterior (José Maria Marin) e outro, proibido de deixar o Brasil sob risco de também ser preso (Marco Polo Del Nero). Temos ainda, sei que vou pisar em ovos aqui, um pais que liberta um condenado, anula suas condenações sob pretextos esdrúxulos e o reconduz, por vias discutíveis, ao cargo máximo da nação. Ocupado por outro sujeito para lá de suspeito e que foi cancelado pelo sistema a tal ponto que, um jogador famoso e adorado pela maioria dos fãs, ao declarar seu apoio político, foi, também, imediatamente cancelado. Tempos estranhos, reações rápidas, o curso das águas e das vontades segue algum tipo de fluxo misterioso.
Isso me leva ao tópico principal de nosso texto. Explica nossa eliminação? Talvez não, se aquela bola do tal Petcovich não tivesse entrado, estaríamos todos anestesiados e nos considerando os melhores e bla bla bla. Talvez se a Argentina (ah, a Argentina- nêmeses nos esportes e tão próximo que quase dá para tocar com a ponta dos dedos de nossas oníricas fantasias) tivesse sido eliminada pelos holandeses, bravos, táticos, frios, talvez isso mitigasse um pouco o nosso senso de fracasso. Mas tudo que escrevo aqui pertence ao campo das hipóteses e, precisamos amadurecer e analisar as perdas e danos antes que seja muito tarde e percamos outro trem da história.
Agora é tarde. Leite derramado. Levantar a cabeça. Começar de novo. Sou brasileiro e não desisto nunca. O cacete!! Eu queria era ter ganho aquele jogo e queria ganhar o hexa. Cansado de justificar e tentar entender fracassos, gostaria que ao menos quem está no comando tivesse a humildade de reconhecer seus erros e não os cometesse mais. Um jogo de futebol é só um jogo de futebol, certo? Há controvérsias. E quando um jogo de futebol pode ser um assustador reflexo de nossa sociedade? Nos consideramos os melhores, mas é bom reconhecer que faz tempo, demasiado tempo, que já não o somos. Condenados ao moto perpétuo dos erros sem fim, parecemos aquele cara que rolava a rocha para cima para sempre ter que apanhá-la novamente no pé da colina, quando ela escapava. Sísifo! Lembrei agora do nome do cara! Sim, Sí fu….mo!
Acorda Brasil!
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Cezar Fittipaldi
Escritor diletante, ourinhense de nascimento e coração, professor de escola pública, ex-empresário, eterno sobrevivente nesse país de desafios, encara a vida como uma gigantesca obra literária em tempo real. Seu esporte favorito é o automobilismo, gosta de basquete, atletismo, natação e o futebol já foi mais apreciado. Já assistiu a numerosas copas do mundo, todas pela televisão, e torce comedidamente pelo time do Brasil, sabendo separar ufanismo e nacionalismo de amor ao esporte.
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