Pombo com asa. Uma história de amor.

No futebol todos conhecemos a expressão “pombo sem asa”, aquele chute onde a bola vai em direção ao gol como uma pedrada, com violência irrefutável e arrebatadora.

Agora, com o gol de Richarlison aos 73 minutos do tempo regulamentar da estreia do Brasil na Copa do Catar, contra a Sérvia, passamos também a ter a expressão “pombo com asa”, sim senhor.

Pru.

Tudo por conta de mais uma investida diabólica de Vinícios Jr. pela esquerda do ataque, que invariavelmente vai hipnotizando seus marcadores enquanto avança, numa dança que só terminou quando abriu-se a brecha para um passe de três dedos potente e preciso em direção ao centro da grande área, onde surgia o nosso camisa 9.

A bola chegou forte, como deve ser, e ao colocar o pé esquerdo para dominá-la, qual não foi a surpresa de Richarlison quando tudo, de repente, ficou em câmera lenta. Super slow, para ficar bem claro. Neste momento, a bola e o centroavante titular da seleção começaram a mais bela história de amor já contada nessa copa.

Você vem sempre aqui? Perguntou a bola, debochada, dando uma piscadela e fingindo não saber que essa é a primeira Copa do nosso atacante.

Pru.

É o que dizem por aí: namore alguém que olhe para você como Richarlison olhou para aquela bola durante toda a eternidade daquele instante.

Enquanto a bola subia, fotógrafos do mundo inteiro se prepararam como paparazzis para aquele momento de explicita intimidade anunciada.

A bola achava graça da expressão nervosa no rosto de Richarlison. Tantas possibilidades.

Eu sou a bola que você sonhou a sua vida inteira, ela disse. E aqui estou, toda sua.

Talvez tenha dado tempo de passar um filme na cabeça no nosso 9 – Birdman, ou A Inesperada Virtude da Ignorância, por exemplo.

E a danada foi subindo e indo mais para o lado. Eu sei do que você gosta, meu Pombão, ela disse novamente.

Pru.

Treino é treino, Copa é Copa. Ele olhou para ela lá no alto e, todo assanhado, pediu pra ela baixar só um pouquinho.

E ela baixou somente o necessário para que ele pudesse decolar em modo pombo, assinar uma pintura e colocar os dois definitivamente na história do nosso futebol, aconteça o que acontecer daqui pra frente.

Toda essa sem-vergonhice em pleno Catar. Despudoradamente, para o mundo inteiro ver. Eternizados, com a cumplicidade daqueles que não têm medo de ser felizes.

Tudo isso no espaço-tempo de aproximadamente um segundo.

Pru.

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