“Cuando así me acosan ansias andariegas
Qué pena tan grande me dá ser mujer!”
Juana de Ibarbourou
Quando já tudo estivesse perdido, campo-santo em silêncio abandonado, na terrível agonia de um sonho esvaído na arena embandeirada, então eu sentiria que ela vinha, minhas pernas ouviriam o silvo finíssimo da esfera, ovo da glória, voando em direção às minhas costas, cortando em curva o ar parado e tenso.
Meus pés, feito piões em louco giro, levariam meu peito ao seu encontro.
A bola escorreria como água até o peito das chuteiras mortas que saltariam como coisas vivas, em amorosa transa com a esfera, criando entre os escolhos um caminho jamais adivinhado pelos deuses, até lançá-la em trajetória nítida lá no fundo das redes encantadas!
Nesse último segundo, o da vitória, sob a cegueira eufórica da massa, eu deixaria, então, despercebida, aquele estranho corpo que tomara e voltaria a ser quem sempre fui: mulher, banida dos gramados épicos, porém, secretamente, enfim, completa!