Crônica (ou conto) da Fada dos Dentes

Ontem, assim por acaso, acabei tomando ciência que os colegas de blog, Carlos Castelo e Fernanda de Aragão, estavam tramando um desafio de crônicas sobre os dotes dentários do Luis Suárez.

Movido, não por ciúmes, mas pelo sentimento de dever com o público, não pude tomar outra atitude senão enfiar-me junto a tantos caninos, molares para, incisivamente, contar tudo que sei sobre o assunto.

Por isso, ao invés de continuar ruminando notas introdutórias, vou direto à história: começou em junho de 1994, quando um humilde menino do interior do Ceará, chamado Ronaldo Nonato, colocou seu dentinho de leite recém caído debaixo de seu simplório travesseiro. Junto ao pequeno pedaço de osso, um recadinho: “Querida fadinha dos dentes, eu não quero moeda não. Quero a taça da Copa do Mundo pra nossa seleção.”

A Fada dos Dentes, que todas as noites repetia sua enfadonha rotina, tira dentinho, coloca tostão, quase não acreditou naquele pedido, não. Olhou o garoto de perto, a casa de taipa, as roupas poeirentas e, por certo, se comoveu. Que diabos é essa taça para ser mais importante do que uma moedinha na vida de uma criança que mal tem o que comer?

Rapidamente tratou de se informar e descobriu que era algo relacionado a um famoso jogo popular. Foi ter com os deuses do futebol, que lhe mostraram a importância e a graça da tal Copa do Mundo e, por consequência, de sua reluzente taça. Disseram-lhe também que o país do ludopédio, pátria daquele pobre moleque, fazia 24 anos que não conquistava o título máximo do jogo.

E não que é que a danada da fada se encantou pelo tal do esporte bretão? Pegou gosto pelo jogo bem jogado e viu em nossa seleção uma maneira de ajudar o menino lá do sertão. Havia ali, naquele time, um outro rapazote que a fada já havia visitado e, que, na ocasião, presenteara com dentes deveras evidentes. O nome, Ronaldo Nazário, xará fluminense, promessa da bola, banco do Romário. Não podia ser coincidência, era o destino dando seu recado, coisa que fada que se preze não deixa passar. A criaturinha resolveu interceder, tocou a arcada dentária do jovem boleiro com sua varinha de condão e professou: este aqui está destinado a sorrir com a taça na mão. Mesmo ele não tendo jogado naquela Copa, o encanto da fada surtiu efeito no restante da seleção e o Brasil trouxe o caneco para felicidade do garotinho desdentado e de toda a nação

Anos mais tarde, a mesma fada encontrou outro afilhado, um certo Ronaldinho, cheio de ginga e com dentes ainda mais salientes. Resolveu usar a mesma mandinga e o Brasil foi mais uma vez campeão, agora com dois Ronaldos pra lá de sorridentes.

A fada era só orgulho, se achando a grande responsável por tanta comoção. Saiu pela noite embebedada de pirlimpimpim, perdeu o rumo em algum lugar e acabou no Uruguai. Foi lá, que por acaso ou distração acabou jogando seu encanto em um jovem meio esquisito, mas não menos dentuço, um de tal Luisito.

Contudo, parece que a magia da Fada dos Dentes só funcionava para Ronaldo. No caso do coitado do Suarez, deu colateral e o rapaz, com fome de bola, avançou o sinal, mordeu mais do que devia e se deu mal.

Os meus amigos cronistas, Fernanda e Castelo, ainda esperam dos dentes do Uruguaio algum lance mortal, mas eu digo que a fada já corrigiu o que havia feito de errado. Tomou seu poder e procurou outro afilhado. E o pretendente, sem ter a dentição muito pra frente, chamou a atenção de outro jeito, tratou de clarear seus dentes pra ganhar algum respaldo. E não me venham falar que ele também se chama Ronaldo!

 

 

 

 

 

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