Chuva inglesa no deserto.

Sabemos que o clima no Catar é árido, assim como o futebol do país. O primeiro jogo, contra o Equador, foi aquele 2×0 seco, ou seja, com poucas chances, quase nenhuma emoção. O Equador tentou, em alguns momentos, esquentar a partida, mas do lado catari, nenhuma gota de bom futebol.

Pois bem, o tempo mudou logo no segundo jogo: Inglaterra contra Irã. Ainda que os persas também sejam acostumados com o clima seco na questão de gols, eles têm mais tradição, mais qualidade. Jogam sua terceira Copa consecutiva.

O jogo começou conforme a previsão. Os iranianos se postaram atrás,  praticamente onze homens criando uma barreira quase impenetrável aos ventos ingleses. Embolaram o meio campo, tumultuaram a intermediária. Ficava claro que seria um típico jogo ataque contra defesa. Aquele chove mas não molha.

Os ingleses buscavam, triangulavam no meio campo, valorizavam a posse, mas só encontravam caminho pela lateral direita. E por ali, no primeiro chuveirinho mais perigoso, o goleiro do Irã encontrou um companheiro no caminho e cabum! – uma cabeçada violenta que tirou o guarda-metas da partida. O estrondo do choque deve ter sido tão grande que os deuses do futebol se confundiram com um toque da famosa dança da chuva. E foi o que aconteceu logo em seguida. Uma tempestade inglesa.

A tormenta começou pelas beiradas, com aquele vento lateral, o chuveirinho se tornando uma garoa forte. O primeiro trovão: num escanteio, Kane cabeceia e a bola bate na trave. Primeiro gol: bola vinda da esquerda, Bellingham de cabeça. Segundo gol: outro escanteio, Maguire escora de cabeça para Saka completar com um tirambaço.  O terceiro: Kane avança pela direita, cruza para Sterling completar com um toque antes do zagueiro. O primeiro tempo termina assim, os iranianos encharcados de tanto correr atrás da bola. 3×0

A segunda etapa começa diferente, os iranianos tentavam clarear o tempo e o jogo, tentando atacar, manter a posse, marcar no campo dos súditos de Rei Charles. Mas você sabe, para tentar invadir as terras inglesas é preciso estar acostumado com o mau tempo, com as rajadas inclementes. Pior pro Irã. A Inglaterra se postou para contra-atacar como um raio. Uma tempestade de raios, para ser mais exato.
Sterling avança, livre e solto, como um furação na planície, encontra Saka livre, que dribla a zaga entrando na área e acerta o canto. Golaço. 4×0.

A equipe persa não se dava por vencida. Uma pequena corrente de ar úmido se formou pela direita, um ataque certeiro pegou a defesa inglesa de calças curtas. E você sabe, quem está na chuva, é para se molhar: cruzamento e gol de Taremi, de primeira, em uma ótima finalização. Gol do Irã.

Mas parou por aí, nesse lampejo. As nuvens continuaram muito mais pesadas do outro lado. Foram mais duas pancadas da chuva de gols inglesa.  A esta altura, a defesa iraniana estava sendo vazada de todos os lados – e pelo meio também! Rashford entra livre na área, corta um e completa sem chances para o arqueiro. Ainda havia tempo (mau tempo para os iranianos) para mais:  aos 44 minutos, Wilson entra livre pela ponta direita e cruza com açúcar para Grealish completar sem marcação. 6×1.

A fatura parecia encerrada. Mas a seleção iraniana é combativa, com uma postura digna de nota. Atacaram o quanto conseguiram, mesmo nos acréscimos, obrigando o goleiro inglês a enlamear a camisa em uma ótima defesa.

Quando o tempo se esgotava e o clima parecia estável, ainda tinha mais água para rolar. No último lance da partida, o VAR encontrou um pênalti para o Irã. Taremi cobrou para marcar e se tornar o artilheiro da Copa com 2 gols, ao lado do equatoriano Enner Valencia. Final: 6×2. Uma lavada!

E foi assim, a primeira chuva de gols da Copa do país com o futebol mais desértico de todos. Chuva é especialidade inglesa, mas de gols é novidade. Ótima partida, principalmente sendo contra uma equipe famosa pela defesa. O vento vai continuar soprando a favor dos bretãos? Veremos.

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