Lição dos Jogos

Quando me senti estimulada a escrever a minha primeira crônica para o Projeto Crônicas da Copa me peguei, primeiramente, pensando em assuntos óbvios, porém, dignos.
Falar sobre minha expectativa em relação à Copa, em relação ao desempenho do Brasil nesse esporte que lhe é tão peculiar e tão caro? Discorrer sobre o fato de nosso time ser o primeiríssimo e único no ranking das Copas do Mundo, com seus cinco títulos e suas cinco estrelas estampadas no peito, seguido de perto apenas por Alemanha e Itália, que foram quatro vezes vencedores?
Falando em Itália, comentar a grande tristeza que é a ausência de sua seleção na atual copa, depois de um histórico tão marcante em competições anteriores, deixando apenas para os germânicos a chance de se igualar aos brasileiros em número de vitórias?
Preferi destacar dois aspectos que para mim estão intimamente relacionados: primeiro é o caráter temporal extraordinário da competição, que nos é apresentada ao final do ano, estrategicamente posicionada no calendário após as eleições presidenciais brasileiras e antes da chegada do bom velhinho vestido de vermelho e das explosões de fogos de artifício por todo o céu, sempre comemorando o início de uma nova era.
É claro que para que isso se concretizasse foi necessária a surpreendente e polêmica escolha do Catar como sede do mundial. Faz parte do jogo. As altas temperaturas do meio do ano nessa região fizeram com que, excepcionalmente, pela primeira vez, se realizasse a competição em época incomum.
Decidi analisar a grande lição que podemos tirar do futebol para repensarmos nossa forma de encarar as perdas ou vitórias nas batalhas da vida. Não é por acaso que tivemos no passado o exemplo da Democracia Corintiana. Foi um movimento da década de 1980 liderado por um grupo de jogadores de futebol como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, que utilizaram sua projeção nacional para se posicionar politicamente.
Será força do acaso que agora presenciamos torcedores desse mesmo time agindo contra movimentos antidemocráticos e ajudando a desobstruir rodovias, ilegalmente ocupadas por manifestantes? Não creio. Acho que tudo faz parte da lição que a vida nos apresenta através do esporte.
Cada vez que termina uma partida de futebol, que tem seu resultado anotado na súmula, quase nada pode ser feito para mudá-lo. Existem regras que foram estabelecidas para se chegar ao vencedor, seja pelo número de gols marcados durante a partida, pênaltis convertidos ou raros casos de W.O., quando um dos times não comparece para jogar. O juiz é a autoridade soberana em campo. Quando este toma alguma atitude questionável, há meios de se acionar a justiça desportiva para, se for o caso, suspendê-lo, puni-lo ou reverter alguma de suas ações, como, por exemplo, um cartão vermelho mal aplicado. Porém, na maioria das vezes, as reclamações têm caráter emocional, vindas do lado perdedor, inconformado com o resultado para si desfavorável, baseando-se em fatos quase sempre inexistentes ou meramente interpretativos.
É para isso que servem as leis. Para estabelecer parâmetros de funcionamento de um organismo. Para direcionar ações e organizar as sociedades. Quem sabe possamos, através dessa metáfora, entender a democracia como necessária e inegociável.
Que se dê sequência a todos os jogos e que as regras estabelecidas sejam cumpridas!

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