Diários do Castelo na Copa – 2

Como a Copa não começava decidi conhecer o Deserto das Arábias. Imaginava que fosse grande, mas aquilo é uma enormidade: o Pantanal, perto dele, é um Piscinão de Ramos. Acabei me perdendo. O jipe que aluguei era coberto por seguro antirroubo, anticolisão, antichamas, mas ficou coberto de areia, até o teto, e isso o seguro não cobre.
 
Sou meio claustrofóbico, confesso. Quando vi aquele areal todo em cima do Land Rover, não consegui ficar dentro. Peguei a última garrafinha de água mineral e sai andando a esmo. Nesse cenário só havia duas possibilidades: virar uma peça de charque ou ser devorado por aves de rapina.
 
Para minha surpresa, mudei o paradigma.  Terminei novamente sequestrado por extremistas. Agora, por uma sub-facção do Talibã que está em governo de transição com o Hezbollah.
 
No momento, o pessoal do Talibã está formando a equipe que vai suceder ao Hezbollah na região. O “formando” aqui talvez devesse ser substituído por “eliminando”. Prefiro, todavia, não opinar sobre os métodos democráticos de regimes tirânicos que desconheço.

Um dos líderes veio logo avisar que eu havia sido escolhido para uma importante missão: comunicar ao Ocidente que não estão satisfeitos com o modo como os tratamos. Procurei explicar que era jornalista, que iria cobrir a Copa para um portal brasileiro chamado Crônicas da Copa. Não deu jogo.
 
Estou um pouco estressado com a situação. Contudo, em determinados momentos, me parece que o pessoal do Talibã está ainda mais nervoso do que eu. Especialmente depois do que aconteceu ontem. Pelo que deu para entender, o filho pequeno de um deles foi brincar de drone. E, provavelmente, por não saber mexer direito nos controles, acabou explodindo os caciques todos que estavam dentro de uma caverna.
 
Foi um fuzuê. Não passou nem meia hora e já me botaram para gravar um vídeo que será entregue ao Galvão Bueno. Nele, um rapagão mascarado me joga no lago de um oásis, de bruços, amarrado a 30 bolas de futebol.
 
Antes, eu digo à câmera, chorando: “se o Irã não ganhar a Copa, vão me deixar boiando aqui pra sempre”. Não achava que dessem tanto valor assim ao futebol.
 
Tomara que o Galvão assista logo ao vídeo e peça para uma van da Globo vir me buscar. O problema aqui, pelo jeito, é condução. Eles têm só duas pick-up Toyota para tudo. E uma, o drone do menino arregaçou.  Espero estar em Doha antes do Brasil pegar a Sérvia. O que menos quero é ficar boiando nessa Copa.

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