TODOS OS JOGOS O JOGO

TODOS OS JOGOS O JOGO

Não adianta convocar Pascal, Descartes, Rousseau, Sartre e o diabo a quatro: o futebol, além de ter reações que a própria razão desconhece, é, como diria Borges, um labirinto de surpresas e num só jogo, para cortar o azar, há todos os jogos.
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Um jogo de amarelinha em que se vai do inferno ao céu, com medo de pisar naquelas cobrinhas, principalmente nas cobranças.
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Um jogo de porrinha, em que, de repente, a cabeça de um palitinho pode abrigar uma explosão.
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Um jogo de poquer, em que cada jogada pode ter a tocaia de um blefe.
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Um jogo de truco, em que o Zape pode, inesperadamente, virar um WhatsApp ao Destino.
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Um jogo de xadrez, em que o peão pode cair do cavalo e este movimenta-se em L, a despeito de sua ideologia, enquanto bispo, quebrando o voto de castidade, tenta comer a rainha.
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Um jogo de palavras, em que se um time rabiot, rabiot, dançou, então há de se rezar uma ave di maria e não messi mais comigo.
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Um jogo da loteria ou de bicho de onde saiu a inesperada zebra, pois o mês dessa Copa foi o de dezebra, mas, na final, a zebra deu lugar às renas e acabou não dando as caras.
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E antes de recolher minha bandeira, manuelizo-me dizendo que assim eu quereria a minha última crônica: que fosse esperançosa aos jogadores da terra e menos aos internacionais; que fosse mordente aos cartolas com suas soluções de maracutaias; que tivesse a pureza dos humildes jogadores quase sem ciúme; a certeza de que cada time tem um diamante em sua base; a paixão dos torcedores que continuam a serem o que são mesmo depois de vários rebaixamentos.
Porque o futebol, como o amor, não possui explicação.

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