ESCALAR, VERBO INTRANSITIVO

ESCALAR, VERBO INTRANSITIVO

Já que a Copa de Futebol Feminino vai se definindo, com as classificações das oito melhores do mundo, e como estamos de fora, vou lançar mão da imaginação.
Escalarei uma possível seleção de personagens de nossa literatura, como se elas, deixando seus afazeres ou prazeres em seus respectivos textos e contextos, pudessem entrar em campo e combater as adversárias estrangeiras.
No gol, escalaria Dona Flor, de Jorge Amado. Ela que teve dois maridos, sendo que um deles estava no Além, seria capaz até de defender um gol espírita.
Nas laterais, convoco Luzia Homem, de Domingos Olímpio: é bela e brava, forte, vigorosa, capaz de defender e ajudar o meio de campo, podendo chegar até a área inimiga. Também escalo a Cy, mãe do mato, lá do Macunaíma, de nosso super Mário de Andrade. Icamiaba cheia de manha e de sensualidade, rápida amazona, capaz de acertar à distância bola certeira nas redes (e até dormitar nelas, com seu herói).
Na zaga, aliás, nada como Rita Baiana, de O cortiço, de Aluísio de Azevedo: Irreverente, decidida, cheia de lábia e de catimba, é capaz de provocar cartões amarelos e até vermelhos dos atacantes que investirem em nossa defesa.
Ali no meio do campo, três volantes, as três meninas de Lygia Fagundes Telles: não há como separar Lorena, Lia e Ana Clara. Lindas e destemidas, capazes de surpreender a cada jogada, elas se entendem muito bem e é garantia para deixar suas adversárias atônitas.
A camisa 10 fica com quem? Claro, Capitu, quem mais poderia armar jogadas, driblar e deixar o centro avante na cara do gol, quando não ela mesma irromper na pequena área, com seu jeito oblíquo e dissimulado?
E nas extremidades, colocaria Hilda Furacão, do atleticano Roberto Drummond pela ponta esquerda, e a doce e meiga Iracema, de José de Alencar, na ponta direita. Quem sabe esse contraste de características não seria uma estratégia engenhosa, heim?
Por falar em estratégia, quem seria a técnica? Como a moda é chamar treinador estrangeiro, lanço mão da alemãzinha Fräulein, de Amar, verbo intransitivo, do já citado super Mário de Andrade. Se ela soube iniciar um burguesia na vida sexual, poderia também trazer artimanhas para nossa selecionado.
Não gostou? Escale a sua, oras bolas.

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