Como se fosse a primeira Copa

A copa tá quase aí, mas parece que não tá. Tem gente vestida de verde amarelo? Tem! Mas é do time dos que não entenderam que, no jogo democrático, uns ganham e outros perdem. Tem bandeira do nosso país nas casas? Também tem! Mas é de quem trocou o gramado pelo quartel e transformou patriotismo em ignorância e ódio.
Tá difícil se concentrar na escalação do Tite, na seleção, no tratamento de pele que tá deixando o Neymar com carinha de bebê. Não dá muito ânimo de reclamar da convocação do Daniel Alves, ainda mais com craques como a Gal e o Rolando Boldrin saindo de campo.
Mas bola pra frente porque, com ou sem empolgação, faltam poucos dias para o Mundial e a gente sabe que, mesmo que nos 45 do segundo tempo, vai ter torcida, sim.
O jogo de estreia do Brasil, o Google acaba de me dizer, será no dia 24 de novembro, uma quinta-feira, às 16h00. E essa copa tá tão diferente que vai ser a primeira vez, em muitos anos, que não ficarei agoniada para saber se serei liberada para ver os jogos em casa ou se terei que ver com o povo da firma. Afinal, agora trabalho em homework.
Com o domínio dos serviços de streaming sobre a TV aberta, os jogos já vão começar e ainda não tive overdose de Galvão e nem fui impactada por uma enxurrada de notícias sobre o Tite, a seleção ou as particularidades do Catar.
No meu guarda-roupa não tem nenhuma peça verde-amarela já que as cores da nossa bandeira foram usurpadas pela seita bolsonarista.
É tanta coisa diferente rolando que a impressão que eu tenho é a de que esta será minha primeira copa.
A primeira copa sem contar os dias para que a copa chegue.
A primeira copa que vou assistir sóbria depois de muitos anos.
A primeira copa sem usar as cores do Brasil.
A primeira copa, desde o tetra, que vou assistir no interior.
A primeira copa sem ter criado um milhão de campanhas e eventos publicitários falando da copa.
A primeira copa em pleno verão, mas sem horário de verão.
E o que é mais bizarro: a primeira copa às vésperas do Natal, depois de uma corrida eleitoral com cara de final de copa.
Sem problema, a gente improvisa! Se não der para comemorar o hexa, bora afogar as mágoas na ceia. Quem sabe o futebol consiga driblar a política e o tio do pavê não substitua a torta de climão?
Vai ter copa com gostinho de uva passa misturada com especial do Roberto Carlos. Vai ter Jingle Bell com vuvuzela. Cerveja com picanha e panetone. Canarinho pistola com Papai Noel. Gabriel Jesus na manjedoura e o hino da Simone pra gente cantar erguendo a taça, nem que seja a de Sidra. Vai ter copa pra gente relembrar que o nosso país é de todo mundo.
Pra gente retomar a nossa garra e torcer como nunca, não só pela seleção de brasileiros no Catar, mas pelo timaço que veste a nossa camisa todos os dias e batalha, sem descanso, para vencer a pobreza, a fome e a desigualdade.
Vai que é tua, Brasil!
* Um agradecimento especial ao amigo Flavio Pires, para quem tive o descaramento de encomendar o belo meme que ilustra esta crônica.

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