Sem apelidos

Era tarde quando liguei a TV. Os vinte e seis já tinham sido anunciados e os nomes com as fotos apareciam de tempos em tempos numa faixa sobreposta às imagens da entrevista coletiva. Dei a sorte, no entanto, de pegar esta faixa recomeçando com a lista naquele exato momento. E o começo das listas, todos sabem, é sempre com os goleiros.

Lá estavam Alisson, Ederson e Weverton. Os três nomes com “ON”. Tá ligado? Nada de goleiros “OFF” . E isto parece um grande começo. A seguir, veio o nome do capitão (capiton??? Non, non, non. Trocadilho tosco tem limite). E não é que o professor Tite chamou o Daniel Alves? A escolha foi assunto para a semana inteira naquele embate dos a favor e contra. Deu o que falar e ainda vai. Deixa chegar o dia da estreia, deixa o Brasil começar. Não sou pessoa que fica em cima do muro, eu desço pro campinho e do mesmo modo que mais da metade da torcida, torci o nariz com esta escolha. Confesso que teria ficado em cima do muro se não tivesse lido uns dias antes a respeito do lateral que joga no México, mas não joga no México e que foi pobre e dá a mínima para a cidade onde nasceu. Mas que fazer depois que já foi? A gente não gosta, a gente faz crítica, mas não sai por aí agitando bandeira e provocando impedimento (das vias). A gente aceita. É do jogo. Reclama, aceita e toca a bola. No caso, continua acompanhando a faixa na parte inferior da tela com os demais nomes.

Danilo tem semelhanças com Daniel. Dois Dani na lateral direita e dois Alex na esquerda: o Sandro e o Telles. Eder é Militão com a, ó, til. O ão é forte, meio parente do on, e acho que pega bem para um zagueiro. Thiago Silva a gente já conhece. Marquinhos é diminutivo, mas é plural e o Bremer, sei lá. O Bremer? Muito prazer. E prazer em saber que vai estrear a camisa de número 24. Dizem que estamos bem na defesa. Vamos confiar .

Dos volantes, Casemiro é o primeiro da lista. Gosto deste nome que parece ter vindo dos tempos das bolas de capotão com câmara de bexiga de boi e gosto também de Firmino que poderia ter vindo do mesmo tempo, mas Firmino não aparece na lista. Outro bate bola de favor ou contra. Fred e Fabinho, aliteração em campo. Mais interessante se tivéssemos também um Farofa. Fred, Fabinho e Farofa, volantes de enrolar a língua. Bruno Guimarães encerra a lista dos que levam a bola da defesa para o ataque e chega com nome e sobrenome. É bonito, dá um certo poder e pegou faz tempo no nome das lojas de roupa, sapato e bolsas.

O meio-campo tem também mais nomes com sobrenomes: Lucas Paquetá e Everton Ribeiro. O primeiro joga na Inglaterra bem longe da ilha no Rio, o segundo rima com brasileiro e faz sentido quando a gente pensa que ele está entre os três únicos jogadores que ainda atuam no país.

A lista termina com nove atacantes. Tanto nome que a gente nem sabe o que dizer. O primeiro é Neymar da linhagem dos nomes brasileiros terminados em mar, que quando quebra na praia é bonito é bonito, mas que não pode quebrar no jogo. No entanto, se acontecer tem mais oito pra fazer gol. Daí vem o Vinícius Júnior que às vezes é Vini Júnior. A seguir, Richarlison, mais um terminado em ON, dos ONs dos que se ligam às causas sociais sem ligar para o que dizem. (Viva o Richarlison!) Daí vem Raphinha, cujo ph está também no Raphael do seu nome em tamanho natural. Antony é Antony Matheus e jogou no São Paulo ( o meu time ) antes de ir para a Inglaterra. O Rodrygo tem este Y no meio, tipo o Neymar e tipo o Neymar veio também dos Santos e tipo o Neymar também é bem bom no ataque, mas as semelhanças, a gente torce que parem por aí. Pra finalizar, temos os atacantes bíblicos Jesus, Pedro e Gabriel (o Martinelli).

Sei lá! Acho que dá pra por fé nesta seleção e me dei conta agora que, tirando os diminutivos dos próprios nomes, este time não tem apelidos.

Compartilhar:

Curta nossa página no Facebook e acompanhe as crônicas mais recentes.

Crônicas Recentes.