O homem diante do gol

O homem diante do gol é sempre fraco. Ânsia e expectativa. Frustação e medo. Covardia e vontade. O estômago que revira, a mão que sua, o pelo que arrepia. O homem diante do gol é mentira. É mídia. É vergonha. O homem diante do gol é todo dia. A última chance do segundo. A corrida contra o tempo. O carrinho, o atropelo. O homem diante do gol é patético, é triste, medonho. O homem diante do gol me representa, te entristece. O homem diante do gol no escritório, no celular, na enfermaria. O homem diante do gol é Rivotril. O homem diante do gol cobre a cara de vergonha, comemora, baba. Anda de carrão, lambe a sarjeta, humilha. Grita. Ele quase sempre grita, às vezes abraça, às vezes chora. Põe a mão no peito e canta o hino. Sorri pra criança que o venera. Faz selfie com o moleque que quer ser o homem pra ficar diante do gol. Para ter a garganta seca, para cuspir no campo, para estar à venda no mercado, para gemer, para se quebrar, para virar chacota, engordar, se entorpecer, matar, marcar ou morrer. O homem diante do gol bate bola, bate ponto, bate na trave. O homem diante do gol é sempre triste.

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