Os homens que narravam as mulheres

Abro os olhos por volta das 11h, bêbada de sono e cachaça. Ligo a TV para ver as meninas que vencem de 2 a 1. Me perco na beleza das jogadoras. Não a beleza das bundas e do decote, pelo qual acabo de ser lembrada em um comentário no facebook. Mas a beleza que esmaga, se sobrepõe, insiste. A beleza que atropela e ameaça. Que não se deixa servir de fetiche.Que abre caminho.
Apesar do Galvão, que não deixa a comentarista falar. Apesar do Luiz, do boteco do Jeová, que achou que eu não sabia atravessar uma rua. Apesar de todos eles, que não seguram a barra da cachaça, do sucesso, da audácia. Que forçam a barra. Que não querem camisinha. Que julgam as vagabundas, todas elas: você. Que repetem a cena da moça desmaiada na delegacia pra dizer quem é mais forte. Pra nos contar o que é estupro. Os homens que narraram e ainda narram as mulheres e falam de seus pelos e seu peso. Que conduzem o sexo, pautados em sua vontade. Que ditam as regras, que não admitem fracassos. Que atravessam a conversa. Que explicam todos os lances (você sabe o que é impedimento?). Que contabilizam suas fodas e seus fetos. Que embebidos em suor e ódio se matam nas torcidas, sacam suas armas, mostram seus músculos, matam suas mulheres, tão frágeis que são.

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