Até por volta dos meus 17 anos, eu achava que os anos ímpares me favoreciam. Nascera em 1969, minha irmã em 1975, o Corinthians foi campeão paulista em 1977, 79 e 83 e o Flamengo venceu o mundial em 1981, mesmo ano em que, jogando futsal, ganhei os meus primeiros campeonatos e terminei como artilheiro com 113 gols. Como se não bastassem as “evidências”, havia jogado um brasileiro
de seleções, em 1983, e um mundial sub-16 pela seleção brasileira, em 1985. Ou seja, quando a minha perspectiva da vida era, sobretudo o futebol, eu carregava essa fantasia. Alguém alimentou ou alimenta algo parecido? Algo do tipo: o Brasil venceu os mundiais em anos pares (1958, 62, 70, 94, 2002) e pode vencer em 2022?
A vida seguiu e, evidentemente, isso mudou. A minha vida, como um todo, já há muito tempo, deixou de ser o futebol. Percebi, aos trancos e barrancos, as evidências não lineares e a complexidade da vida. Não há uma receita para viver. Há uma busca. Tornei-me, portanto, isso.
Mas, nesses dias de Copa, peguei-me fantasiando que eu, aos 53 anos, adentrarei 01/01/2023 com uma perspectiva de esperança renovada para o país que habito e que habita em mim. Escapamos por um fio – eu, a floresta, a cultura, a educação, a saúde, os povos indígenas, os deficientes – do asfixiamento em massa. Chegamos, num ano par, ao tricampeonato que importava. Já dá para curtir um hexacampeonato.