Machista da boca pra fora, feminista de coração, assim era o nosso cronista e teatrólogo maior. Nelson escrevia como uma máquina, escrevia crônicas, peças, histórias do cotidiano, falava sobre o amor e o desamor, dos desajustes familiares, sobre a vida como ela é.
Mas, acima de tudo, Nelson falava sobre futebol. E como falava. Nas suas linhas, o futebol não era um esporte, era um dogma, uma liturgia na qual o bailado se sobrepunha a estratégia, o gingado ao esforço físico, a arte ao mecanismo.
Nelson pintava cada lance com tintas brilhantes e dava uma cor inesquecível ao match, mesmo quando se tratava de uma pelada
.
Imagino Nelson descrevendo o futebol feminino com mais vigor ainda. Imagino como ele veria o drible da Marta, as arrancadas da Cristiane, o vigor de cada uma de nossos meninas. Certamente ele louvaria cada lance como se fosse único e inesperado. Tingiria cada passe certeiro como um quadro de Cézanne.
Nelson se inspiraria nessas meninas de uma forma tão dramática que teríamos um retrato inimaginável de um simples jogo de futebol.
Pena que ele se foi muito antes das garotas entrarem em campo. Pena que não surgiram outros Nelsons por ai, apesar de termos tidos os Joãos que também amavam e escreviam com intensidade sobre essa arte tão reverenciada em nosso solo. Mas, Nelson era o Nelson e como ele nunca houve outro.
Pena.