Perdas e Vitórias

Perdas e Vitórias

– Mamma, corre, se arruma, a copa vai começar! Cadê uma camiseta da seleção? Você tem uma né?!
– Mamma, essa é azul… cadê a que todo mundo tem, em verde e amarelo?
– Mamma, hoje eu saio mais cedo da escola porque tem jogo do Brasil.
– Mammaaaa… onde vamos assistir o jogo?
– Mamma, olha como me pintei para torcer pelo Brasil.

1994 foi o ano da última Copa do Mundo que assisti morando no Brasil. De lá para cá minha paixão pelo futebol foi minguando, até se transformar em inexistente. Pelo menos isso era o que eu achava até voltar a morar aqui e me deparar com o entusiasmo das minhas filhas, que são italianas mas que se sentem mais brasileiras, mesmo não sendo ainda ítalo-brasileiras.
Nunca tinha conseguido chamar a atenção delas para seguir nenhum esporte. Já eu, graças ao meu avô paterno, cresci vibrando com cada vitória de Senna, acompanhando Agassi, Sabatini, me emocionando com os gols de Zico, aprendendo de cor e salteado os nomes de cada jogadora da nossa seleção feminina de vôlei de 1994, sem contar que desde que me entendi por gente, não perdi uma única Olimpíada. De nada valeu todo esse meu amor pelo esporte, simplesmente não consegui transmiti-lo para as minhas meninas.
Muitas vezes culpei a falta que fazia o Galvão Bueno, o seu entusiasmo na hora de narrar, e no caso dos eventos onde o futebol estava presente, a falta do seu gooooooooooool…. Brasillllllllll.
Cheguei até a realizar alguns sonhos esportivos: assistir um grande torneio de tênis em Barcelona – Conde de Godó; assistir Brasil x Inglaterra em Paris; ver o Barcelona brilhar no Camp Nou algumas vezes; assistir um Fla x Flu no Maracanã. Porém aos poucos, fui perdendo o interesse. As corridas de Formula 1 já não faziam mais parte das minhas manhãs de domingo.
Depois da maternidade na Itália, troquei meu interesse pelo esporte por atividades ao ar livre, quando o dia estava bom, ou passeios no Ikea quando chovia – só para aproveitar o espaço kids.
O que eu não imaginava é que um dia, minhas filhas, que hoje têm 10 e 13 anos, me pediriam camisetas da seleção para acompanharem as partidas da Copa, que sentaríamos com a caçula da família de 1 ano, enfrente do telão para seguir cada jogada, que vibraríamos juntas a cada gol… Foi então, que tornei a sentir a força da torcida, a força da terra que vibra em uníssono por um país, a força de uma nação que, apesar dos pesares, se junta nessa hora. Foi então, que senti as cores da nossa bandeira de volta.
O Brasil pode até ter perdido outra Copa do Mundo, mas uniu mais uma vez o seu povo… e ganhou mais três torcedoras mirins.

– Mamma, o que significa falta?
– Agora o gol é de qual lado?
– Por que falam que Neymar as vezes finge?
– Quem é o melhor jogador?
– Achei um jogador da Inglaterra bonitinho.
– Agora eu posso torcer para Croácia?
– O Brasil saiu, mas quero assistir os outros jogos.
Enquanto a caçula, a única das minhas filhas nascida no Brasil, bate palmas e grita goooool.

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