CRAQUES DE CHINELAS

Sou, acho que já posso dizer isso sem freios de modéstia, um redator publicitário bem-sucedido. Assim como meu amigo de décadas José Guilherme Vereza, ele mais do que eu porque ostenta em alguma estante em sua casa a estatueta de um leão, prêmio conquistado em Cannes, que equivale ao Grammy ou ao Oscar da publicidade mundial. Claro que nós dois sabemos que seríamos mais exemplares de competência não fossem outros amigos, como o Fábio Fernandes ou o Rynaldo Gondim, esses reconhecidos estraga-prazeres.
Mas, para o desgosto deles, numa coisa, o Zégui e eu somos muito melhores do que eles. Somos craques, talvez os únicos em todo o mundo, em jogar futebol de chinelas havaianas. Não com elas marcando o gol, como fazem os peladeiros na praia. Digo com elas calçadas. Viu? Já ficou mais impressionado, não ficou?
Pois o Zégui conseguia driblar, correr e chutar sem que a sandália arrebentasse as tiras. Eu também metia meus chutes de trivela e a bichinha ficava lá, intacta. Técnica e habilidade que, duvido cá sozinho, que Fabinho e Rynaldo jamais tenham alcançado nem mesmo em sonhos. Tá bom, Rynaldo pilota aviões. Fabinho pilotou por anos uma das mais criativas e extraordinárias agências de publicidade do Brasil, quiçá do mundo. E daí? Eles nunca jogaram futebol de sandálias havaianas.
Pois a dupla Zégui e Tuniquim fizeram um sucesso solitário nessa modalidade do esporte. Tive oportunidade conversar por alguns minutos com lendário Didi, estrela do Botafogo nos áureos tempos do meu glorioso. Perguntei a ele, cheio de empáfia: “Você já jogou futebol de chinelas havaianas?” Ele pensou e tentou uma saída: “Descalço, já, bastante…” Mas eu fui duro na marcação: “Mas de chinelas, nunca, né?” Ele sorriu sem graça e confirmou a minha suspeita. Ninguém, em nenhum lugar ou em tempo algum, joga futebol de chinelas com a habilidade dessa dupla de redatores. E temos testemunha: João Bosco Franco, outro redator publicitário de grande estilo, foi testemunha ocular desse nosso feito, que se deu em campinho improvisado em um sítio em Teresópolis, Rio de Janeiro.
Vendo o Messi isolar a bola hoje na batida de falta contra a Arábia Saudita, pensei nisso. Quem sabe ele não teria feito o gol se calçasse as sandálias, não as da humildade, mas a da nossa glória: as nossas chinelinhas campeãs! Seguimos invictos, Zégui…

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