Get up, stand up: don’t give up the fight!
(Bob Marley)
Ainda é difícil ouvir o hino ou usar a camisa amarela da seleção brasileira de futebol novamente. Tanto pelo gosto amargo que a seleção da Bélgica deixou na minha garganta no verão russo passado, quanto pela associação da tal camisa à situação política caótica que vivemos por aqui. Não vesti a camisa. Respirei fundo e ouvi o hino observando a tensão nos rostos, como se eu estivesse ali do lado segurando as mãos das meninas.
Havia também a tristeza pela ausência da atleta piauiense. Que grande dia seria esse para minha terra. Enfim estaríamos representados em uma Copa de Futebol! Sim, é verdade. Os nascidos neste solo, banhado pelo Parnaíba, nunca nos deram a honra de estar lá. E, de repente, essa representação se faria pelos pés de uma garota, quem diria! Durou menos de vinte e quatro horas a alegria de Adriana e a nossa. No meio do caminho havia uma lesão de joelho que a chutou para fora do campo. Mas como ela mesma disse em uma entrevista, o sonho foi apenas adiado e, eu acrescento, é preciso voltar ao gramado.
Últimos acordes do hino, a câmera procura e encontra a seriedade daquela que já nos faz campeãs antes mesmo dos resultados dos jogos. Miraildes, a menina formiga, está em campo pela sétima vez em copas do mundo no auge dos seus 41 anos de idade. Nenhum(a) atleta no mundo conseguiu tal feito. Motivo suficiente para erguer de novo a bandeira e seguir vendo de perto os seus passes perfeitos oferecendo calma e segurança a um time que se ressente pela falta da maior de todas. Aquela que ostenta o recorde, entre mulheres e homens, de melhor jogadora do mundo. Ninguém antes dela obteve catorze indicações, das quais seis se confirmaram em título.
Empate? Nervosismo de estreia? Bobagem, isso é coisa de homem. Elas disseram a que vieram emplacando três gols. Na frente de Schneider, a goleira Jamaicana, tinha a persistência e o riso bonito de uma Cristiane que soube usar a cabeça e os pés para nos convencer. O domingo se abre para uma tarde feliz. Não prometo usar a camisa amarela. Penso que o azul me cai melhor. Mas estarei ao lado delas nesta jornada. Quanto a você Adriana, que tanto nos orgulha, peço licença às jamaicanas para usar palavras de Bob Marley que acalantam meus dias: levante-se, ponha-se de pé: não desista da luta. Estamos juntas!
Imagem: Lars Baron – FIFA / Contributor/Getty Images