Olha o rato!
Nenhum francês, em qualquer parte do planeta, já estaria recuperado da ressaca de champagne pela conquista do bi-campeonato mundial quando o futebol brasileiro reabriu seus trabalhos. Os farelos das baguetes ainda estavam no chão e o odor de brie, roquefort e camembert continuava forte, misturado ao aroma do vinho nas taças não lavadas do domingo anterior.
Antes a ressaca fosse nossa. Até porque o calendário esquizofrênico do futebol brasileiro, um dia após uma final de COPA DO MUNDO, resolveu nos brindar com uma partida entre Vasco e Bahia, pelo jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil.
Nenhum choque de realidade poderia ser sido mais brutal com o torcedor de futebol.
Dos estádios da Rússia para São Januário. A bola não precisaria nem rolar para escancarar todo tipo de diferença, todo tipo de evolução que nosso futebol ainda precisa em termos de organização para fazer bonito. Senão bonito, pelo menos limpinho.
E quando a bola rola, que saudade do toques precisos da Bélgica, da França, da Croácia ou do Senegal que fosse. É um tal de chuta de qualquer jeito aqui e acolá, cabeçadas sem direção, uma correria que apavora qualquer lembrança do que nos acostumamos a ver durante o mês mágico da Copa.
Vitória do Vasco por 2 x 0. Classificação do Bahia, que havia vencido o jogo de ida por 3 x 0, ainda antes da parada para o mundial.
Mas nem tudo estava perdido. Para nos reapresentar a nós mesmos, o Vasco x Bahia pós-copa teve ainda o triunfante desfile de um rato, bem no meio de campo. Um rato destemido, tamanho grande ao que parece, que ganhou destaque na televisão e repercutiu como meme nas redes sociais.
Verdade que também existem ratos na França, mas no Brasil o rato não quer saber de se esconder no esgoto ou no metrô. No Brasil ele está em busca do seu espaço no futebol. Um rato com espírito poeta. Um rato que não desiste nunca. Um rato sem o menor complexo de vira-latas.
Tivesse a nossa seleção um pouco mais da verdade, da ambição e da coragem daquele rato, talvez, mais uma vez, a taça fosse nossa.