Antes mesmo do português Cristiano Ronaldo fazer a festa lusitana às margens do Mar Negro, próximo às montanhas do Cáucaso, ao balançar as redes da Espanha três vezes em Sochi, as torcedoras iranianas protestavam, elegantemente, em outra sede russa, particularmente, em São Petersburgo, com cartazes que enunciavam, em língua inglesa, a paixão pelo futebol – que segundo Amin, acompanhado de sua mulher, indagava: “Precisamos vir aqui, para estar em um estádio como uma família. Por quê? Isso é estúpido”, sem revelar seu sobrenome, a fim de não sofrer sanções ao retornar.
O polêmico cineasta iraniano Jafar Panahi, autor de ‘Isso não é um filme’, entre outros, em sua comédia Offside (Fora de Jogo), cujo roteiro configurava um grupo de moças iranianas sendo barradas, literalmente, de um estádio de futebol em Teerã, ao disfarçar de homens a fim de torcer por sua seleção nacional em um jogo de eliminatórias da Copa do Mundo, buscou ficcionar a própria realidade vivida por sua filha. Tal película lhe rendera no Festival de Berlim de 2006, o prêmio Urso de Prata.
Desta feita, longe da ficção, bem como da terra natal, particularmente a 4.217 km do mundo persa, as belas torcedoras iranianas entraram pela primeira vez num estádio durante uma copa, sem se incomodar com os subterfúgios. E ora que elas deram sorte aos machos, pois o Irã não era favorito contra a seleção do Marrocos. Porém, marcou um tento a zero, mesmo sendo um gol contra.
Uma Copa do Mundo tem dessas coisas: entre protestos, ora entre as quatro linhas, ora nas arquibancadas, “Apoie mulheres iranianas para frequentar estádios” – “deixem mulheres iranianas entrarem em seus estádios”; e quebras de recordes, o mundo para pra vê a bola rolar, como todos nós, amantes do futebol, paramos e torcemos no terceiro gol de Cristiano – de falta, cujo goleiro, estático ficou vendo a pelota morrer no fundo das redes, enquanto as cordas de uma guitarra portuguesa escorria suas notas pelas ruas de Lisboa…
Robson Veiga