Acabou o jogo, 1×1.
Resolvi descer, dar uma volta e tentar passar a decepção. No meu ponto de vista, o Brasil jogou mal. Fez o gol e recuou. E o juiz, que tava mais pra Gilmar Mendes do que pra árbitro de futebol, deu vários habeas corpus pros gigantes da cruz branca.
Na portaria do prédio estava seu Abelardo que me abriu o portão:
– E aí seu Abelardo?
– Foi golpe seu Novaes.
– O senhor fala do jogo?
– Claro, seu Novaes. Esse juiz tinha que parar na lava jato! O japonês tinha que aparecer de manhã cedo na porta da casa dele. Prisão com algemas!!!
– É! Ele errou bastante!
– Errou não, seu Novaes. Roubou. Deve ter levado mais grana que o Geddel!!
– Mas tinha o juiz de vídeo seu Abelardo!
– Tava tudo de conluio!! É golpe! Querem tirar o Brasil! Isso é uma organização internacional! Tem um monte de presidente da CBF preso, seu Novaes. É uma permuta. Eles entregam a copa pra soltarem os presidentes.
– É mesmo, seu Abelardo? Onde o senhor ouviu isso?
– Isso é uma análise da minha própria lavra, seu Novaes. Sei ler nas estrelinhas.
– Nas estrelinhas? Como é isso?
– Ora seu Novaes, entre uma linha e outra pode conter muitos segredos. Por isso nunca assino um contrato sem ler nas estrelinhas. É ali que mora a trapaça!!
– Tá certo, seu Abelardo, e se o Brasil ganhar da Costa Rica e da Sérvia e a gente for pras oitavas? O senhor ainda vai achar que foi golpe?
– Tudo armado! Viu que a Alemanha perdeu? Então, Brasil e Alemanha vão sair em segundo nos seus grupos. Assim nenhum pega o outro. Só na final.
– E aí o Brasil entrega o jogo em troca dos presidentes presos?
– Se o Brasil entregar o jogo na final, seu Novaes, tem é que prender o presidente que taí também!!!
Fechei o portão e fui dar a minha volta. Definitivamente não sei ler nas “estrelinhas” do seu Abelardo…
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Octávio Novaes
Octavio Novaes é artista plástico, chargista, caricaturista e cartunista, nascido na capital paulista onde trabalhou em diversos jornais, como o Notícias Populares, Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil. A tira Sir Ney publicada na FT, lhe rendeu o prêmio HQMix de melhor álbum de humor, e o prêmio Ângelo Agostini, de melhor roteirista de humor. Participou de diversas publicações e por dois anos foi responsável pela página de humor da revista Forbes, além de realizar um quadro com charges de esportes animadas na TV Cultura. Em 2016, teve um Sketch book lançado pela Editora Criativo e, em 2017, publicou post cards com algumas de suas obras.
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