Feliz e honrada com o convite para integrar o time dos “cronistas da Copa”, sobretudo porque a crônica é um imenso desafio para qualquer escritor. Ela parece fácil de fazer, mas é um dos gêneros mais complicados, mesmo para os mais experientes. Como escritora, me arrisco em tudo: conto, novela, romance, cometo até mesmo alguns poemas. Mas a crônica, ah a crônica, essa é, para mim, sempre uma montanha a transpor.
Estudo muito esse gênero, e aproveito aqui para compartilhar um pouco do que aprendi com vários mestres nas minhas andanças pelo conhecimento. Luiz Bras, o meu mentor (aliás, mentor de grande parte da geração literária atual) e o responsável por me trazer para o mundo dos livros nos ensina que “a crônica moderna é um texto curto, de 400 a 500 palavras (algo entre 2.200 e 3 mil caracteres com espaço). É uma xícara de café, um sorvete. Um lampejo de inteligência para ser apreciado em poucos minutos”.
Mas não basta ser um texto curto para ser uma crônica. Outros elementos precisam estar presentes, ensina o mestre, como o humor, o lirismo e/ou a irreverência. A crônica pede o tom coloquial, a linguagem direta, os períodos curtos, e a narração necessariamente em primeira pessoa. Quase uma conversa com o leitor, às vezes uma delicada confissão. Segundo ele, textos que não preencham esses requisitos podem ser bons e tal, mas não são crônicas.
No começo do ano fui convidada a colaborar com o Escritablog (um espaço voltado para a literatura), como parte de uma equipe de quatro cronistas mulheres, e com tema absolutamente livre. Desde então venho brincando de escrever crônicas. Mas agora, falar de futebol e de Copa, me parece ser um desafio maior ainda, sobretudo porque, se houvesse uma matéria “Futebol”, eu não passaria, digamos, da média 2,5.
Frente a essa dificuldade, meu olhar será o de quem olha o entorno, o detalhe. E aqui acho que cabe uma triste constatação: assim como houve uma espécie de “higienização” no cenário do Rio de Janeiro para a Copa passada, ativistas dos direitos dos animais se dizem preocupados com os cachorros sendo mortos com crueldade por lá, uma vez que bandos de vira-latas, muitas vezes agressivos ou e famintos, são comuns nas cidades russas, grande parte devido à recusa popular em castrar os animais de estimação.
O jornal Parlamentskaya Gazetanoticiou tiroteios em massa e eutanásia de animais de rua ocorrendo em diversos locais, incluindo Moscou. Mês passado, o vice-primeiro ministro, Vitaly Mutko, estimou que existem cerca de 2 milhões de vira-latas nas cidades sede, e insistiu que o problema seja resolvido de forma humanizada.Só que não é o que está ocorrendo.
Enquanto isso, nós brasileiros nos preparamos para todas as emoções que esta Copa 2018 promete, torcendo aqui para que os cachorrinhos – e todos os animais – passem a ser tratados com mais humanidade na Rússia até a abertura oficial do evento, e sempre.
Foto: Cena recente da Rússia, foto de Santana Filho.