A Copa dos que não foram

Desde o começo da Copa penso nos países que ficaram de fora. Minha lembrança das crianças alinhadas na quadra, aula de educação física, as duas melhores jogadoras iam escolhendo seus times, eu imensa e descoordenada incapaz de acertar a bola, ficava por último, eu não era uma escolha, se houvesse um limite de alunas por time eu ficaria de fora, de fora dessa pequena copa particular que era todo o meu universo.
Agora os dois times em campo, a torcida colorida, pintada, um carnaval de pátrias festivas em coro, fico mesmo pensando nos países que não foram, que tentaram e não conseguiram, se eles ligam as televisões para ver a festa dos outros, a arquibancada gelada da quadra do colégio em que eu sentava sozinha no fim de tarde com um lanche gorduroso assistindo às meninas que sabiam jogar.
Deviam fazer a Copa dos que não foram, uma coisa paralela, cheia de holofotes, gritos de incentivo. As crianças daqueles países nem saberiam para que Copa estão torcendo, seus jogadores emocionados cantando o hino.
E agora começa o que talvez seja ainda pior, a volta pra casa, depois de uma batalha longa, que pode terminar só depois de um doloroso e anárquico chute a gol tão eficiente em rotular culpados, expulsos da festa antes do fim. Quem perdeu o pênalti desce do avião e abraça os filhos que sabem de tudo, sabem que a torcida do país inteiro não gosta mais do seu pai, a fragilidade desses heróis.
Deviam fazer as Eliminatórias Discretas. Vamos jogando, todo o dia um jogo, anotamos quem ganha, vamos seguindo, não precisa eliminar agora, disfarçamos, botamos o time pra jogar com algum da Copa dos que não foram. Deixa para eliminar mais pra frente, quando pouca gente estiver prestando atenção.

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