Uma Copa de arrancar os cabelos.

A primeira Copa de que me recordo é a de 66.
Lá na Ingla, terra dos Beatles, como alguém um dia me disse.
Eu havia pegado a estrada (bem que podia ser a Route 66) para passar as férias na fazenda dos meus tios, em Flora Rica. Cidadezinha desaparecida no mapa de São Paulo naquela época e que continua assim até hoje.
Garoto da capital, fã dos garotos de Liverpool, cabelão comprido igual aos deles, andava por uma das duas calçadas da cidade e percebia que algo não ia bem. O Brasil jogava e a turma bufava.
Pessoas se aglomeravam ao lado de um rádio de válvulas e o clima realmente não era dos melhores. Alguém gritou, “pega esse cara”. Outro, “corta esse que assim não dá”.
E eu pensava, lá com meus cachos: “parece que ainda não vai ser dessa vez que o Brasil vai ser tri”.
Triste com o previsível fiasco da seleção, continuei chutando uma pedrinha ou outra enquanto caminhava. De repente, o cabeludo da capital, sem perceber, estava cercado por um time inteiro de garotos do interior. A marcação estava mais cerrada do que a dos botinudos zagueiros portugueses no Pelé, naquele doído 3 x 1, com dois do Eusébio, o “Pantera Negra”.
Um dos garotos pediu a bola, quer dizer, a palavra, e bradou, como se fosse o juiz da partida: “Aí, ô da capital. Aqui cabelo assim é de mulherzinha. Ou corta ou vamos pegar você de porrada”.
Olhei prum lado, olhei pro outro, e rápido como um ponta entrei na primeira portinha que encontrei. Seu Zé Barbeiro, sem pestanejar, me mostrou a cadeira e, craque como era, entrou em campo.
Resultado: o Brasil perdeu a Copa e voltou pra casa de cabeça baixa; eu perdi meu cabelão e voltei pra casa de cabeça raspada.

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