Quando o país amarelou

A TV Globo vem exibindo a série de programetes “A Copa que eu vi”, com artistas, jogadores, jornalistas e celebridades variadas relembrando determinados jogos das diversas Copas. Aproveito o pretexto para recordar um momento marcante da Copa de 98.
Era sábado, eu tinha ido ao saudoso Barnaldo Lucrécia pra bater uma poderosa feijoada e assistir a um jogo da Copa nos tevês instalados no salão principal. E vibrei com a partida Croácia x Alemanha, das quartas de final, em que a primeira despachou os tedescos por 3 a zero.
“Nossa, a Croácia tá jogando um bolão! Já imaginaram uma final entre Brasil e Croácia? Vai ser arrepiante”, eu banquei a Mãe Diná.
Aí um sujeito na mesa ao lado me olhou com ar condescendente e abanou a cabeça: “Você tá muito enganado. A final já tá decidida: vai ser Brasil versus França, e a França vai ganhar”.
Fiquei embatucado. Voltei ao Barnaldo para assistir ao jogo final, e comecei a ver a predição daquele estranho se cumprindo. Antes da partida, o narrador reportando que Ronaldinho, o garoto-prodígio, tinha passado mal à noite, que teve convulsão, chegou a vomitar. E o resto do jogo transcorreu como um pesadelo, do qual só me lembro do Edmundo cobrando uma reação dos companheiros: “tá 2 a zero”.
Era o dia de Zidane, que marcou um gol de cabeça, de Petit e de Desailly, que fecharam a conta com um irretorquível 3 a zero. Nunca esqueci a profecia aziaga daquele estranho, e passei a considerar a teoria de que “país que hospeda uma Copa do Mundo costuma ganhar na final”. Esperei que essa regra hipotética pudesse valer em 2014, quando o Brasil sediou o evento máximo do futebol mundial, porém… tinha uma pedreira no fim do caminho, que atendia pelos nomes de Thomas Müller, Miroslav Klose, Toni Kroos, Sami Khedira e André Schürlle. Ausente do jogo (de licença médica), Neymar Jr. foi poupado do trauma de enfrentar o rolo compressor germânico.
Esse placar esmagador de 7 a 1 abalou as estruturas psíquicas da nacionalidade brasuca. Pelo visto, não tínhamos uma seleção à altura do desafio. E foi também nessa Copa de 14 que vimos e ouvimos uma celebridade televisiva, a partir de seu camarote, puxar um coro popular de “Ei, Dilma, vai tomar caju”, com a presidenta presente ao grande fiasco, televisionado ao redor do planeta. Tamanho descalabro me causou a impressão de que o país teria uns 7 anos de azar, em todos os campos. Essa alucinação transbordou das “arenas” e tumultuou as ruas. Creio que já chegamos a ver o fundo do abismo que cavamos com nossos próprios pés, mas vamos erguer a cabeça e tocar essa bola pra frente. É mais do que tempo de fazer gol no campo da história.

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