A dor fantasma

Eu estava concentrada no trabalho quando escutei janela afora uma comemoração efusiva. Gritos, cornetas, buzinas, como se não houvesse mais expediente nesse país. Teria eu pedido a noção do tempo e o Brasil já estava em campo? Não, não era isso. Era a Alemanha apanhando da Coreia (yeah). Era a alegria do brasileiro com a desclassificação do adversário (e por que não dizer inimigo) mais memorável da história das copas.

Perdeu, Alemanha, beijo, tchau!

E ainda foi com vexaminho.

Mas, vamos admitir, celebrar a vergonha alemã hoje na primeira fase não aplaca quase nada a nossa humilhação na semifinal de outrora. O 2×0 foi, sim, um vexame. Mas aquele 7×1 foi… ainda é… a humilhação das galáxias, né?

Quase vejo a janelinha do avião, a trupe alemã dando tchauzinho, com lencinho pra secar a lagriminha, mas sorrisinho de canto no sobrevoo do estádio, mãozinhas fazendo a dança dos sete dedinhos: até já, Brasil. Continua jogando exatamente assim que a gente se vê numa (breve) escala em Frankfurt.

Nossa pseudosatisfação de ver o oponente partir hoje traz de bônus o alívio de uma certeza: Brasil e Alemanha não vão se enfrentar na Rússia. Porque já tava virando obsessão de brasileiro calcular a probabilidade de encontrar os caras nas próximas fases. Nunca vi a galera tão empenhada em fazer conta. A pessoa não sabe calcular o juros do cartão, mas sabe a chance média ponderada de um embate com os chucrutz.

A Coreia hoje foi nosso analgésico, pura morfina na veia. Se foi! Mais que os nossos 2×0 contra a Sérvia, ela aplacou um pouco a nossa dor.

Só que o mal do Brasil é a dor fantasma. Sequela maldita dos mutilados. Presente, persistente, lancinante mesmo depois de quatro anos. Tem remédio que (até) alivia, mas a cura mesmo é outra história. Extirpá-la é um desafio pra gigantes.

Haja analgésico, haja terapia. Mais que isso: tô achando que haja mesmo é reza braba pra Nossa Senhora da Neuroplasticidade Cerebral. Só ela pra fazer a Seleção ficar gigante nessa Copa.

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