MEUS DEUSES

Ontem chorei.
Não pela exibição empolgante da Seleção Brasileira
no primeiro tempo contra a Coréia do Sul. Não pela recuperação
do Neymar ou pela alegria do primeiro gol do Vini Jr. numa Copa do Mundo.
Não pela jogada do Richarlyson que precedeu mais uma pintura de gol, não pela dancinha do time inteiro, inclusive o Tite, a mais perfeita tradução da espontaneidade feliz do Brasil. Tão em falta ultimamente.
Ontem chorei.
Por conta de um vídeo que me enviou o amigo João Bosco Franco, só de sacanagem, porque sabia que eu ia chorar.
Não vou dar spoiler, porque sei que sensíveis vão verter cachoeiras.
Chico Buarque e Pelé juntos, a tabelinha mais bem articulada pelos cordames do talento, o encontro de deuses, revelando a intimidade com o futebol, a música, a arte, a bola, a criatividade, salpicada por gargalhadas saborosas e pérolas da presença de espírito. Um registro de um Brasil bonito.
Os dois frequentam minha vida desde 1958, quando ouvi no rádio um anjo de 17 anos descendo à Terra operando diabruras. E quando em 1967 vi na TV uma banda passar e se alojar no lado esquerdo do meu peito fazendo pulsar a música como uma jogada de Pelé. Ou seria uma jogada de Pelé algo como uma construção do Chico?
Chega. Mais não digo. Vejam o vídeo, procurem no YouTube, perguntem a algum amigo que o tenha salvado, chorem pela beleza do talento em dose dupla.
Ontem Pelé recebeu homenagem emocionante dos jogadores brasileiros depois do jogo. Mas o homenageado do dia fui eu.
Por perceber que vivi o mesmo tempo encantado de Chico e Pelé.
Obrigado, meus deuses.

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