Leio no Globo uma reportagem muito oportuna sobre a evolução das goleiras no futebol feminino e me vem ao coração uma compaixão com a posição definida por uma lendária constatação: “goleiro é tão desgraçado que onde ele pisa não nasce grama”.
Tal axioma pode estar com o prazo de validade vencido, pois é do tempo em que os goleiros cavucavam a grama com os calcanhares para terem de costas a noção do centro do gol. Hoje não é mais assim, mas o goleiro segue sua pecha de desgraçado. Quando erra, geralmente é fatal. Não é dado ao goleiro o direito de vacilar.
Meu avô, que na mocidade fora goleiro do time amador da Leopoldina Railroads, quando me levava ao Maracanã preferia ficar sempre atrás de um dos gols. “Para você ver como o goleiro sofre”.
Não só compreendia como herdei sua admiração pelo chamado “gol keeper”, tanto que um dos meus maiores fracassos na propaganda foi quando me meti a ser goleiro nas peladas noturnas de publicitários.
Apesar de o privilégio de ter visto Garrincha, Pelé, Coutinho, Didi e Nilton Santos em campo, confesso que vibrava com as defesas de Gilmar e Manga.
Nessa Copa do Mundo Feminina não tem sido diferente. Me encantaram as goleiras jamaicana Rebeca e a nigeriana Chiamaka, que trancaram espetacularmente seus gols. As brasileiras Leticia, Camila e Bárbara merecem minha torcida e admiração, por chegaram onde chegaram, contra tudo e contra os narizes torcidos pela mulher no futebol.
Outro dia, no Café aqui da esquina, conversei com um gajo entusiasmado pela guarda redes da seleção portuguesa, a Patrícia Moraes, que segundo ele era goleira de seus jogos da bola na infância: “a miúda de 8 anos saltava aos cantos da moldura como se tivesse asas e mola nos pés”.
Ser lembrada no cotidiano é uma glória para esses degraçados e desgraçadas guardiães das metas. O único problema é que a evoluir tecnicamente a performance de goleiros e goleiras, do jeito que a coisa vai, tê-los como ídolos é inconscientemente torcer por zero a zeros.
Que assim seja. E o goleiro e as goleiras, enfim, vão merecer nos estádios estátuas e placas comemorativas de defesas espetaculares. É uma nova atração do futebol, que essa Copa Feminina está nos fazendo lembrar e encantar.
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José Guilherme Vereza
José Guilherme Vereza é publicitário, redator, diretor de criação, escritor, ficcionista, cronista, roteirista. Pós graduado em Pedagogia, acrescentou o “professor” nessa lista de coisas que gosta de fazer. E não para por aí. É pai de quatro (objetiva e subjetivamente), avô de dois, metido a cozinheiro, botafoguense típico, ama escrever. Ter sido convocado para o timaço do Crônicas da Copa é seu imodesto gol de placa.
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