Nos tempos mais gloriosos do Botafogo, o ônibus da delegação entrava de marcha à ré no Maracanã.
O time tomava gemada antes dos jogos, menos por fortalecimento energético, muito mais porque, uma vez servido o potente suplemento vitamínico, nunca mais o time perdeu, até ser campeão em 1957. Não sei se abandonaram a gemada, mas o cachorro Biriba entravava com a equipe em campo e ainda tinha lugar de honra na concentração.
Treze é o número de sorte do Zagallo, queiram ou não queiram, o maior Curriculum Vitae do futebol mundial.
Na rampa do Maracanã há um busto de Garrincha. Que botafoguense nunca passou a mão na cabeça da estátua antes de se acomodar na arquibancada? Sempre fiz isso, tomando o cuidado de ir ao banheiro depois para lavar as mãos, porque acredito que bactérias assanhadas podem achar o gesto promíscuo uma festa contagiante.
Jamais assistiria a uma partida de buraco com o Mick Jagger ao lado.
Em se tratando de Copa do Mundo, tenho as minhas manias. Alguma confessáveis. Camisa amarela sempre, a despeito do uso indigno que fizeram dela ultimamente. Não corto cabelo em dia de jogo decisivo. Fiz isso uma vez para nunca mais: foi na manhã daquela desastre no Sarriá em 82.
Quando começa o jogo, jamais estou de pernas cruzadas. Caso esqueça, tento consertar no segundo tempo, cruzando as pernas para o outro lado. Não gosto de assistir a jogos do Brasil com quem torce contra a Seleção. Se alguém manifesta tamanha rabugice legitimada pela liberdade de expressão é sinal que no próximo jogo estarei sozinho no meu canto, com minhas superstições, que existem, cultivo, alimento, sendo que a maior delas é não revelá-las a ninguém, as chamadas inconfessáveis. Sei lá, pode quebrar o encanto.
Admito que cada um tenha as suas, enrustidas ou gritadas aos quatro ventos. Admito também que há quem ache tudo isso uma grande bobagem, algo de ser humano tolo e pretensioso, que precisa estar no controle de uma situação, na crença neurótica que é capaz de definir o destino do imponderável e do que não está sob seus cordames. Pretensão ou não, confesso que por muito tempo me senti culpado pelo já citado desastre do Sarriá.
Tal recorrente sentimento torturante me levou a buscar estudos sobre superstições. Reproduzo aqui, para não tomar o tempo do leitor, o resumo raso porém verdadeiro das definições dos dicionários: superstição é crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas. Crença em presságios e sinais, originada por acontecimentos ou coincidências fortuitos.
Toda razão à razão. Todo respeito à consciência. Todo olhar desconfiado às superstições que nos aprisionam.
Mas cá entre nós: botafoguense escaldado, zoar a Argentina em véspera de estreia do Brasil, nem pensar.
Xô. Vira essa zebra pra lá.
EXTRA! EXTRA! Edição atualizada: zoar a Alemanha também não convém.