SOFIA FEZ SUA ESCOLHA

Uma final de Copa do Mundo entre França e Argentina é o pior dos mundos para o torcedor brasileiro. Mundo cruel! O justo seria existir uma terceira alternativa, onde os dois perdessem!
Sobre nossos Hermanos vizinhos, deve existir algo além da histórica e ancestral rivalidade entre países com destinos de certo modo parecidos – temos mais em comum do que pode parecer à primeira vista e por isso é, episódios como o da água batizada, soa incompreensível, diria mesmo uma molecagem, da mesma forma que as piadinhas mútuas de gosto duvidoso, como os famosos cantos “macaquitos de Brasil!”. Certas coisas só podem ser compreendidas pelo avêsso: temos rivalidades que destoam nossas relações, mas os nossos conflitos são mais na base da birra, nunca passaram disso, de disputas de egos ou da mania de grandeza deles e nosso eterno complexo de vira-latas. Desafortunadamente, o futebol é o campo de batalha preferido!
E do outro lado, os franceses? Ah, os franceses que nos batem sem dó faz um tempo! Está na hora de dar um basta! Nos passaram a perna em 1986; nos golearam na final de 1998, no fatídico episódio da convulsão do Ronaldo e da falta de atitude da nossa Comissão Técnica que não teve peito de barrar o jogador que não tinha condições de estar em campo. Motivos, pois, para torcer contra a França não faltam: poderão ser bicampeões em sequencia (2018, 2022) feitos só conseguidos pela Itália (1934, 1938) e pelo Brasil (1958, 1962). Dureza! Já que não tivemos competência de ganhar da meia boca Croácia, então vamos torcer contra a França! Que sina, a nossa: nada que lembre vagamente charme ou glamour. Fala sério, torcer contra a França ou quem quer que seja, é humilhante. Mas não temos escolhas! Aliás, Sofia desta feita, escolheu!
Isso significa, torcer para a Argentina? Não é bem assim, nem tudo é o que parece. Façamos o seguinte: vamos nos convencer de que encontramos uma saída honrosa para por fim ao dilema sofiano. Digamos que não se trata exatamente da… Argentina! A verdade é que vamos ter uma atitude em favor de La Unidad de Latino América! Em nome de La Unidad latinameriucana, vamos reeditar e cantar la canción compuesta por Pablo Milanés e eternizada por Chico Buarque. América Latina, única Pátria, Pátria Unida, pátria de Neruda, de Atahualpa Yupanqui, de Eduardo e Juan Falú, de Guimaraes Rosa, de Borges, José Marti, de Juan Saer, de Hector Babendo, de Mercedes Sosa, do bom vinho, do tangos, do baião, do samba, da milonga, da chacarera, zambas e milongas!
Em suma, de volta ao velho corporativismo continental: torcer para que a taça da Copa venha passar uma temporada por essas bandas! A velha Taça que faz exatamente 20 anos que não desembarca por essas bandas. Estaria a Copa Fifa com saudades dos pampas e florestas? (Que o presidente Alberto Fernandez não me ouça! Ou comete o ato falho – intencional!)
E, se de repente, em meio ao jogaço, aparece em carne e osso, o Sobrenatural Almeida, não para dar azar, mas imbuído da nova missão de acabar com a zica que persegue o Brasil? ( Para quem não se recorda, o Sobrenatural Almeida é um personagem criado por Nelson Rodrigues, um fantasma que dava azar a seu time de coração, o Fluminense).
E, quem sabe, não aconteça um milagre, desses de que só o futebol é capaz? Que esta inédita final entre La Unidad Latino América versus França seja inesquecível, que Mbappe e La Pulga Messi realizem o melhor jogo de suas vidas e que por um momento esqueçamos todas as diferenças que nos separam (e às vezes nos une) e juntos, da América à Europa, que tudo seja uma festa. Que Doha seja uma festa e um Carnaval antecipado! Não duvidem do que pode o futebol, que já foi capaz de parar guerras!

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