O Brasil não se qualificou para as rodadas finais da Copa do Deserto e o pior de tudo é que não temos um culpado direto. A coisa ficou tão feia que nem um pobre judas nos restou para malhar… Podemos cobrar essa ou aquela atitude de um jogador ou outro, um equivoco ou mais nas convocações, mas nada determinante… Não existem culpados, ninguém para descarregar nossa frustração. Então, só nos resta engolir em seco e amargar .
Perdemos para a Croácia nos pênaltis. A Croácia é vice campeã do Mundo. Tem bons jogadores. Poucos, sem a exuberância do Brasil, mas tem. Um deles, Modric, fora de série, mesmo veterano. Durante o jogo, o cara não errava um passe. Pegava a bola e ficava com a mesma colada nos pés, olhava o campo, onde estavam os companheiro e tinha sangue frio para escolher o melhor colocado. Metia a bola, sem erro. Tinha um Modric no Brasil? Não. Mas, se tivesse, não jogaria, pois o achariam lento em demasia, falta-lhe “intensidade”. Sem intensidade, não serve. Nem Gerson jogaria no Brasil de hoje, por faltar “intensidade”.
Se não houve falhas clamorosas dentro de campo ou nas convocações, onde foi que erramos? Rigorosamente, não houve erros, contudo, mudanças são necessárias. Mesmo em time que está ganhando se mexe, que dirá um time que tem perdido nos momentos decisivos nos últimos 20 anos. Minha sugestão? Vendo a entrega absoluta nas partidas entre Argentina e Holanda, entre Portugal e Marrocos e agora a pouco entre Inglaterra e França, ficou-me a impressão que algo diferente aconteceu com os jogadores brasileiros.
Fizeram corpo mole? Não se esforçaram o suficiente? De maneira nenhuma! Todos fizeram o possível, deram o máximo de si. Mas não senti neles uma “vontade coletiva de vitória nacional.” Era como se cada um dos 11 fosse um Ministro do STF, capaz de resolver tudo sozinho. Ora, por mais brilhante que seja, não é possível tudo resolver. Mesmo o STF, quando ameaçado em sua integridade, unem-se pelo objetivo comum, mesmo que seja salvar o pescoço.
No caso da seleção, não foi falta de amor à camisa, o que senti nesse time brasileiro, foi uma falta de identidade. Falta de identidade, de conhecer os atletas. Corei de vergonha quando vi que no time convocado pelo Tite tinha jogadores de quem nunca tinha ouvido falar na vida!
Jogadores que nunca tinham jogado no Brasil, desconhecidos da torcida brasileira. Isso é errado? Não! Mas o quesito identidade pode ser um elemento decisivo numa disputa que pode se decidir no detalhe. A falta de identidade pode resultar em falta de coesão, quando se exige a máxima atenção. Seleção brasileira precisa, ao menos simbolicamente, nos transmitir uma mínima ideia de união. O futebol, uma paixão, é capaz disso, mas é preciso fazer escolhas.
Tite não será mais o técnico. Falam em Guardiola. Em Abel Ferreira. Eu proponho para futuro técnico do Brasil, o cidadão Policarpo Quaresma, criado pelo escritor Lima Barreto. Aquele que propunha que o Brasil fosse devolvido aos povos originários e que o Tupi se tornasse a língua oficial. Como os tempos são outros, Policarpo há tempos abriu mão do poder politico, ao descobrir que teria de negociar com o Centrão, que existe no Brasil antes do Descobrimento.
Consultado informalmente, Policarpo a principio achou uma extravagância incabível, mas ponderou diante da proposta: o resgate da identidade nacional vilipendiada! Policarpo pôs-se de pé: “Pela Pátria, me ufano!”, e se declarou pronto para comandar a Seleção. Mas faz uma exigência: dar preferência a jogadores que atuem no território nacional! Jogador que joga no exterior, só se for realmente relevante. Entre um meia boca que joga fora e um meia boca que joga aqui, o daqui tem preferência. Esse é Policarpo, que acredita ser capaz de estabelecer uma verdadeira mudança de paradigma, convencido de que é chegada de inverter o complexo de vira-lata que volta e meia assombra o Brasil…
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Joca
Sociólogo, ex funcionário público. Autor d'A Invenção da Palavra e Pequena História do Mundo (Fábulas voltadas para o universo infantil e infanto juvenil). A publicar: O Presidente Que Burlou o Golpe (fábula política).
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