NOSSAS MENINAS NA COPA DO MUNDO!

As meninas da seleção brasileira de futebol voaram mais de 15 mil quilômetros, até a Austrália. Com direito a uma paradinha para esticar as pernas, dar um respiro, tomar uma água e retomar caminho até a longínqua terra dos cangurus, disputar uma Copa do Mundo. E quem sabe, livrar nossa cara e nossa honra de ex-potência futebolística.
Ex-potência, sim, porque potência que se preze não fica 25 anos sem ganhar uma Copa – a última ganha pelos marmanjos foi em 2002, a próxima será em 2026 e se quebrarmos o jejum serão 24 anos! Não apenas não ganhamos como demos vexame, inclua-se nesse rol o patético 7 x 1 contra a Alemanha e resultados medíocres contra seleções medianas como Bélgica e Croácia. Uma crônica não tem o objetivo de discutir as razões da crise no futebol , que devem ser profundas. Mas o pior é que esse longo hiato permeado de vexames ainda nos faz arrotar uma inacreditável arrogância.
As consequências perceptíveis da crise nem é o resultado em si, mas um deslocamento, uma perda de chão em relação ao que significa o futebol para a gente brasileira: falta identidade. Nossos jogadores se tornaram estranhos, mas lhes sabemos os nomes. A Seleção perdeu carisma, perdeu a aura mística que nos norteava, nós que víamos o futebol como uma mistura de esporte e arte, teatro.
Contudo, a paixão, o carisma e a alegria ressurge na graça do futebol feminino! Não espantaria se os historiadores do desporto chegassem a conclusão de que o futebol masculino tal como se conhece desde fins do século XIX tivesse chegado a um fim de ciclo. Fechamos um arco e os atletas se tornaram globetroters performáticos. A tecnologia das transmissões, a direção de TV e as tomadas inusitadas, as decisões milimétricas determinadas pelo Video Assistant Referee (VAR) substituíram a emoção e vibração pela tensão (nos dias de hoje, é proibido comemorar antes da confirmação pelo arbitro de vídeo).
O futebol feminino, a paixão, vontade e carisma poderia ser uma demonstração do empoderamento feminino, mas felizmente não é; se o fosse seria a substituição do patriarcado pelo matriarcado ou apenas a substituição de uma opressão por outra.
Em 1967, precisamente em 19 de abril, “apenas” 56 anos atrás, a alemã naturalizada americana, Kathrine Switzer, cometeu a ousadia suprema de correr a maratona de Boston. Um dos diretores da prova, cujo nome nem vale a pena ser lembrado, ao descobrir que uma mulher cometera tal abusi, invadiu a prova e tentou agredi-la, pois ela estava conspurcando um espaço ao qual apenas machos regulamentados e juramentados poderiam participar. Felizmente, Kath (como se tornou conhecida) estava acompanhada pelo namorado fortão que deu um safanão no patético dirigente , impedindo a agressão. Kath pode concluir o percurso, provando que mulheres tinham condições, sim, de correr maratonas. Contudo, apenas em 1972, 5 anos depois, foi criada uma versão feminina para a famosa maratona.
Mudou muita coisa nesses 56 anos? Alguma coisa, mas na marra. Nós homens, ainda nos admiramos com a capacidade feminina, o que esconde o fato crucial de que a igualdade de gênero ainda navega na pré-história da humanidade civilizada…

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