ESCOLHAS DE SOFIA

O que é mais doloroso? Perder a vaga nas semifinais da Copa do Deserto para um adversário meia boca ou ver a Argentina golear esse mesmo adversário meia boca?
Só encontro outro dilema igualmente impossível de digerir: é quando, na politica, o pobre eleitor é confrontado a escolher entre dois candidatos com os quais não se identifica. São as armadilhas da democracia, onde dois lobos se fantasiam de cordeiros e cabe ao todo poderoso eleitor descascar o pepino. Escolhas de sofia, escolhas impossíveis, mas se é obrigado a fazê-las, e onde a pior das decisões é a omissão. Remetemos aqui ao livro do mexicano Octávio Paz, a biografia de Sóror Juana Inês de La Cruz, As Armadilhas da Fé. Imaginem uma freira em princípios do século XVII, em plena Inquisição, que ao mesmo tempo era uma poetisa contestadora , em tempos onde mulher sequer podia escrever, que dirá escrever versos onde explorava sentimentos amorosos que eram considerados obscenos? Sóror Juana era uma obediente serva de Deus, mas era da pá virada. Fez coisas que na época eram do arco da velha, que ousadas feministas só arriscariam três séculos depois! Madonna? Angela Davis? Comportadas perante Juana Inés, mas em seu tempo se viu no dilema de conciliar fé, sentimentos e desejos carnais; que fazer quando os caminhos da fé estão repletos de armadilhas?
Bom, se existem armadilhas na democracia e até na fé, que dirá quando está em jogo o próprio orgulho nacional quando seu vizinho e rival tripudia em cima de você, que nada pode fazer além de formidáveis exercícios de resiliência? Não soubemos ganhar dos meia bocas croatas depois de termos desperdiçados dois ou três caminhões de gols e sofremos o gol de empate num contra ataque, quando a obrigação de contra atacar era nossa. Pior que os erros em si é a zoada que agora somos obrigados a aguentar de los Hermanos…
Mas isso não é nada, ainda. Está ruim? Pode piorar. Hoje vão jogar os folgados franceses contra os esforçados marroquinos e o sentimento de solidariedade para com os mais fracos nos remete a torcer pelo Marrocos contra a França… Acontece que Marrocos é um adversário mais fraco e teoricamente facilitaria o caminho para os argentinos.
Está ruim?
Pode piorar, pois a França pode ganhar.
E a França ganhando, um certo corporativismo continental recomenda torcer… para a Argentina!
Corporativismo continental? Nem tanto. Se os franceses ganharem, teremos de aguentar durante dois séculos o Mbappé arrotar que o futebol europeu é superior ao sul americano, mesmo que a sua França tenha vários africanos, inclusive Mbppé, que poderia ter jogado a Copa do Deserto por Camarões. Uma final França e Argentina é o pior dos mundos para nós, brasileiros. Só nos restaria torcer para os dois perderem, o que obviamente é impossível. Então, fiquemos com o impossível. Quem sabe uma tempestade de areia impossibilite o jogo final e a Copa do Deserto não tenha vencedores…
Ou que aconteça o milagre maior, que Marrocos ganhe dos dois! O destino do mundo e nosso orgulho está nas pontas das chuteiras marroquinas! Que se torne realidade a profecia do Rei Pelé que uma vez disse que o futuro do futebol estaria na África! Ou isso ou talvez seja melhor fazer como Chico Buarque e Ciro Gomes que quando ficam deprimidos ante as vicissitudes dos processos esportivos e democráticos se exilam… em Paris! Recorreria ao status de refugiado futebolístico!

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